DATAS ESPECIAIS | Mês do Orgulho LGBTQIA+

Serão as Mulheres que Fazem Sexo Com Mulheres um grupo vulnerável?

Junho. Mais um mês do Orgulho, repleto de arco-íris, marchas e arraiais. Neste mês, contemplamos por um lado, a grande evolução que ocorreu nos últimos anos, mas lembramo-nos também que ainda há muito por fazer: preconceito por combater, direitos por conquistar, visibilidade por atingir, e formação de maior qualidade por obter.

Na área da saúde, ainda há imensas lacunas no atendimento a pessoas LGBTQIA+. É da nossa responsabilidade, enquanto estudantes de medicina, procurarmos saber mais e exigirmos melhor e mais completa formação para conseguirmos ajudar todes nosses utentes.

De entre essas lacunas, encontramos a saúde sexual e prevenção de Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) em pessoas LGBTQIA+. Muites de nós, já percebemos isto e já procurámos formação extra faculdade em workshops, cursos e palestras. Muites de nós já percebemos que não há grupos de risco, mas sim comportamentos de risco. Ainda assim, continuamos a associar erradamente saúde sexual de pessoas LGBTQIA+ apenas a Homens que fazem Sexo com Homens.

Mas alguma vez pensaste que as Mulheres que fazem Sexo com Mulheres (MSM) podem ser um grupo especialmente vulnerável em termos de saúde sexual?

Infelizmente, sabemos que a sexualidade e o prazer das mulheres (e quaisquer pessoas com vulva) é muito invisibilizado. Aprendemos que a sexualidade gira à volta de um pénis; na colheita da história sexual pensamos imediatamente em práticas penetrativas e na prevenção de gravidezes e, por vezes, ISTs transmitidas nessas práticas.

Mas, se tivermos o nosso trabalho de casa bem feito, sabemos que no sexo entre pessoas com vulva também há risco de transmissão de ISTs, seja no sexo oral, partilha de objetos sexuais, fricção genital, entre outras. Mas como estas práticas não incluem um pénis, não são validadas nem valorizadas, e por isso não se fala em riscos nem em rastreios de ISTs, e muito menos em formas de proteção. E se ninguém fala… “não existe”.

Mesmo nos espaços LGBTQIA+, o sexo mais seguro entre este grupo é apenas abordado como nota de rodapé ou como motivo de piada. E isto acaba por ser internalizado e normalizado, tornando as MSM num grupo vulnerável: por não se reverem nas campanhas de prevenção existentes, por não serem incentivadas a fazer rastreios de ISTs, por acharem que os seus comportamentos são isentos de riscos, por receberem menos informação sobre como se protegerem ou diminuírem o risco, e por terem menos formas práticas e acessíveis de o fazer.

Neste mês do Orgulho, deixo as minhas sugestões para um atendimento mais acolhedor e inclusivo de MSM:

1) Torna-te um espaço seguro e atende quem tens à tua frente com empatia e respeito, independentemente da sua orientação sexual e afetiva, e práticas sexuais.

2) Quando tiveres uma pessoa sexualmente ativa em consulta, não assumas à partida quais as práticas da pessoa, se são ou não protegidas, e com quem as pratica. Se for relevante para a colheita da história, pergunta.

3) Lembra-te que orientação sexual é diferente de comportamentos sexuais.

4) Informa-te sobre as formas de prevenção de ISTs entre MSM existentes e acessíveis (ex: como fazer dental dams ou onde comprar; preservativos para objetos; etc.) e outras formas de diminuição de risco (ex: vacinação, observação de lesões, etc.) para poderes educar e esclarecer utentes.

5) Não te esqueças que o exame ginecológico e o rastreio do cancro do colo do útero continuam a ser fundamentais.

6) Sugere e facilita o rastreio de ISTs. Muitas vezes, a comunidade médica é o maior obstáculo na realização de rastreios neste grupo. Aqui podes fazer a diferença!

Desejo-te um excelente Pride!

Nota: este texto está escrito em linguagem neutra

Autoria: Adriana Sousa (@saudesexuallgbtqi)

Edição de Imagem: Felipe Bezerra