ÂNSIA CRÓNICA | Fim
“Fim – o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa” - Agustina Bessa-Luís
Pretéritos Imperfeitos
Todos os finais têm uma loja de recordações estrategicamente colocada em si mesmos e mesmo antes de qualquer recomeço. Somos tanto donos como turistas para estas lojas. Por agora, conheço o conteúdo de todas as estantes, todas as gavetas, sei de cor até as montras. Um dia, vou voltar como quem não quer a coisa, passar de fininho junto à vitrine, relembrar-me dos contornos de outros tempos e de que aqui, contrariamente às que encontramos a cada dois metros nos pontos turísticos de cidades agitadas, pouca coisa tem preço.
Um dia, abrirei uma loja de velharias, não vão os pretéritos imperfeitos querer vir a ser perfeitos. É a progressão natural das mil e umas lojas de recordações que se tem e visita numa vida. Aliás, se nada se cria, nada se destrói e tudo se transforma, claro que as recordações não são exceção. Provavelmente Lavoisier abriu a primeira loja de velharias para provar um ponto. É um bom negócio, porque, afinal, o que sai mais caro que um bom legado?
Fim
Contrariamente aos fanáticos pela precisão, não creio que haja uma marcação temporalmente exata para qualquer final, mas antes uma nuvem mais ou menos abstrata que paira e deixa adivinhar o desfecho num intervalo de tempo aberto. Os finais arrancam antes e terminam depois, como se tivessem um gosto especial em desafiar a formalidade e vão-se vivendo sem que se dê por isso.
De facto, percebe-se que seja intuitivo admirar o fim como nada mais do que um beco sem saída, em que tudo o que será é apenas o que já se foi. Olha-se para a despedida como uma parede de betão intransponível, quando por vezes é uma bifurcação à espera do veredito: atravessar ou não para a outra margem do rio.
Já se percorreu o caminho até aqui e agora observa-se o curso da água, que continuará a correr em direção à foz sem esperar por ninguém, alertando os mais distraídos de que está na hora. Ainda assim, quantas vezes se fez por evitar um adeus? Mais ou menos do que aquelas em que se preferiu ficar na margem de cá, com receio do destino, ou no fundo apenas com medo de nunca mais “voltar a”?
Assim, na abstração da nuvem que paira, torna-se pacificadora a ideia de que o fim também pode incendiar o rastilho da felicidade. Decide-se agir, atravessa-se o rio e quando se olha para trás percebe-se finalmente porque é que o recomeço tem um brilho diferente.
Autoria: Filipa Dias e Beatriz Francisco, respetivamente
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
DATAS ESPECIAIS | Mês do Orgulho LGBTQIA+
Serão as Mulheres que Fazem Sexo Com Mulheres um grupo vulnerável?
Junho. Mais um mês do Orgulho, repleto de arco-íris, marchas e arraiais. Neste mês, contemplamos por um lado, a grande evolução que ocorreu nos últimos anos, mas lembramo-nos também que ainda há muito por fazer: preconceito por combater, direitos por conquistar, visibilidade por atingir, e formação de maior qualidade por obter.
Na área da saúde, ainda há imensas lacunas no atendimento a pessoas LGBTQIA+. É da nossa responsabilidade, enquanto estudantes de medicina, procurarmos saber mais e exigirmos melhor e mais completa formação para conseguirmos ajudar todes nosses utentes.
De entre essas lacunas, encontramos a saúde sexual e prevenção de Infeções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) em pessoas LGBTQIA+. Muites de nós, já percebemos isto e já procurámos formação extra faculdade em workshops, cursos e palestras. Muites de nós já percebemos que não há grupos de risco, mas sim comportamentos de risco. Ainda assim, continuamos a associar erradamente saúde sexual de pessoas LGBTQIA+ apenas a Homens que fazem Sexo com Homens.
Mas alguma vez pensaste que as Mulheres que fazem Sexo com Mulheres (MSM) podem ser um grupo especialmente vulnerável em termos de saúde sexual?
Infelizmente, sabemos que a sexualidade e o prazer das mulheres (e quaisquer pessoas com vulva) é muito invisibilizado. Aprendemos que a sexualidade gira à volta de um pénis; na colheita da história sexual pensamos imediatamente em práticas penetrativas e na prevenção de gravidezes e, por vezes, ISTs transmitidas nessas práticas.
Mas, se tivermos o nosso trabalho de casa bem feito, sabemos que no sexo entre pessoas com vulva também há risco de transmissão de ISTs, seja no sexo oral, partilha de objetos sexuais, fricção genital, entre outras. Mas como estas práticas não incluem um pénis, não são validadas nem valorizadas, e por isso não se fala em riscos nem em rastreios de ISTs, e muito menos em formas de proteção. E se ninguém fala… “não existe”.
Mesmo nos espaços LGBTQIA+, o sexo mais seguro entre este grupo é apenas abordado como nota de rodapé ou como motivo de piada. E isto acaba por ser internalizado e normalizado, tornando as MSM num grupo vulnerável: por não se reverem nas campanhas de prevenção existentes, por não serem incentivadas a fazer rastreios de ISTs, por acharem que os seus comportamentos são isentos de riscos, por receberem menos informação sobre como se protegerem ou diminuírem o risco, e por terem menos formas práticas e acessíveis de o fazer.
Neste mês do Orgulho, deixo as minhas sugestões para um atendimento mais acolhedor e inclusivo de MSM:
1) Torna-te um espaço seguro e atende quem tens à tua frente com empatia e respeito, independentemente da sua orientação sexual e afetiva, e práticas sexuais.
2) Quando tiveres uma pessoa sexualmente ativa em consulta, não assumas à partida quais as práticas da pessoa, se são ou não protegidas, e com quem as pratica. Se for relevante para a colheita da história, pergunta.
3) Lembra-te que orientação sexual é diferente de comportamentos sexuais.
4) Informa-te sobre as formas de prevenção de ISTs entre MSM existentes e acessíveis (ex: como fazer dental dams ou onde comprar; preservativos para objetos; etc.) e outras formas de diminuição de risco (ex: vacinação, observação de lesões, etc.) para poderes educar e esclarecer utentes.
5) Não te esqueças que o exame ginecológico e o rastreio do cancro do colo do útero continuam a ser fundamentais.
6) Sugere e facilita o rastreio de ISTs. Muitas vezes, a comunidade médica é o maior obstáculo na realização de rastreios neste grupo. Aqui podes fazer a diferença!
Desejo-te um excelente Pride!
Nota: este texto está escrito em linguagem neutra
Autoria: Adriana Sousa (@saudesexuallgbtqi)
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
POETAS DE ESTETO NA MÃO | O Ângulo Morto
Vida inquieta
repleta de incongruências
Como as minhas dobras, os meus vincos
Não tenho rótulos de a quem pertenço
E apenas guardo na minha "memória"
as incontáveis pessoas a quem dei colo
a quem dei descanso
Sou apenas um colchão,
branco,
Poderão dizer que
tenho apenas uma cor,
sou baço,
e sem piada alguma
Mas se calhar...
Sou a soma de todas as que existem
Um prisma de luz
A luz que guia os espíritos
mais cansados...
Sou o último abrigo dos que partem
O último conforto
Tento abraçar de uma maneira que só
as pessoas sem braços sabem.
Mas também sei ser aquele que proporciona
algum descanso
a quem quer apenas uma sesta
Estar neste quarto é mesmo uma benção
Conheço tanta gente,
Ouço tanta gente
Sinto o cheiro de tanta gente
(Mesmo no meio do éter)
E aprendo todos os dias
que não há géneros, idades, raças ou etnias
Há apenas pessoas,
E muitas vezes esquecemo-nos
Que tudo o que importa,
são mesmo, as pessoas
Autoria: António Lopez
Edição de Imagem: Catarina Simões
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Puzzle e Amor
Puzzle
Sou puzzle,
daqueles difíceis de montar.
Tantas peças… Só alguns o querem acabar.
Há quem se fique pelas bordas,
São mais fáceis de encaixar.
Moldura bonita…
Não a querem estragar.
Amor
Não sei se o sinto ou não
Palavra tão grande de si,
sem simples descrição.
Eu por ti… Amor?
Autoria: Diana Santos
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
Ilustração: Rita Sequeira
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Partido
Às vezes pergunto-me porque vim para aqui,
Para debaixo deste céu chuvoso e cinzento,
Para esta floresta fria e meio perdida, da qual (sem querer) quero sair,
Já não sei o que é Casa e o que é Inocência...
Já nem as sinto.
Sinto que não pertenço a sítio algum,
Cheguei a tal ponto que já não sei quem sou,
Centenas de bocados de um objeto único que se perderam pelo espaço e pelo tempo,
E que estão ansiosos pelo seu reencontro.
Volto a casa e à inocência,
Mas essa casa e essa inocência já não são minhas,
Aqui não as tenho, lá não lhes pertenço.
O que vale é que o Amor continua a ser meu.
E é esse Amor o que me dá a Esperança.
A Esperança de que vou reencontrar a Casa e a Inocência,
E que poderei considerá-las como minhas.
A Esperança de que os bocados de vidro se descubram e unam novamente,
Formando o Uno.
Autoria: Rafael Rosa
Edição de Imagem: Catarina Simões
POETAS DE ESTETO NA MÃO | A Materialização dos Sonhos
Alguém rebenta um balão
Fechamos os olhos por medo
Alguém nos encadeia com uma lanterna
Fechamos os olhos por causa da luz
E quando dormimos
Fechamos os olhos porquê?
Talvez seja o cansaço do corpo
Que pede descanso da visão do que lhe é externo
Fechar os olhos parece ser
A ferramenta fisiológica do organismo
Para escapar a tudo o que seja palpável ou visível
Mas sonhar poderá ser um recordar e um aproximar
Pois apenas nos apercebemos do quanto estamos apaixonados
Quando acordamos de um sonho
Para o qual queremos voltar
Será que na escuridão da noite
Tememos ficar sozinhos?
E a única forma de estarmos com quem mais gostamos
É através de um fechar de olhos?
Se assim o for
Prefiro viver sempre com medo
Autoria: Anónimo
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
ÂNSIA CRÓNICA | Desper(sono)lização
Agosto 2021,
Não chove há 23 dias, mas a noite tem um cheiro húmido.
Saio pela janela para me sentar numa réstia de telhado, numa indefinível réstia de dia para inspirar, no ar, as folhas tristes e frias, a terra suada, as lágrimas dos gatos e dos loucos, o transpirar do mundo depois do labor do dia.
O cheiro da noite, limpo, pontiagudo, toca-me como uma mão firme, de homem, na pele levemente arrepiada.
Não se ouvem as árvores, com as suas folhas em lutas genealógicas, como era dantes costume. Não há vento, também. Mas há gatos, porque certamente há ratos. E há carros, porque certamente há pessoas, mas esta condição tem muito pouco de certa.
Pouso as enxaquecas nos joelhos encolhidos. O zumbido cósmico, o murmurar das estrelas com a lua, contempla-me na sua melodia: “lá em baixo, vêem? Entre a chaminé com falhas de tinta e o carvalho velho... Aí mesmo, esse ponto minúsculo! É um ser da noite”.
Mas nada disto é real, palpável, memória se não de delírio de dor. As estrelas são indiferentes ao nosso destino e, segundo as pessoas sérias, que são cínicas, as estrelas não falam entre si. E, segundo as pessoas cínicas, que sérias são, a lua está morta... E o sol é só um homem macabro e narcisista, metade humano, metade pedra, o que é o mesmo que dizer que é todo ele humanidade, que se usa do cadáver belo da amada lua para não largar a Terra, nem depois do pôr-se-de-si-mesmo.
Não sou um ser da noite. Não sou um ser de ser de o quer que seja. Nem sei ser ser, nem ser que sabe ou quer saber. Sei que não sou. Ser, pelo menos, ou que o valha ser, que não sou. Mas por alguma razão há carne sobre ossadas que me dizem minhas...
Há um corpo com nome de eu, sentado numa réstia de telhado, num resquício de dia, tentando ser um resto de ser. Como um trapo sujo, como um pano roto, um corpo usado. Outrora peça da moda, descansa, agora, na sua campa calma, a que tem sabor de abandono e cheiro de desamparo.
E ao longe canta um pássaro. Degolado.
Autoria: Ana Fagundes
Ilustração: Catarina Filipe
Edição de Imagem: Catarina Simões
DATAS ESPECIAIS | Dia da Mãe
Quando era pequena
Quando era pequena e precisava de ir ao hospital, a minha mãe vinha sempre comigo. Ficávamos na sala de espera, eu bastante entretida com brincadeiras e miminhos.
Ia para a triagem. A minha mãe ajudava-me a explicar os meus sintomas. Na verdade eu olhava para ela e ela verbalizava o que eu sentia.
Na entrada para o consultório agradecia sempre aos céus por a minha mãe ir comigo. Não tinha medo da bata branca. Mas o ambiente em si era-me estranho. Só que a minha mãe era tão familiar que o estranho se tornava menos estranho. Depois íamos à farmácia e ela encarregava-se que eu tomasse tudo direitinho. Primeiro os xaropes deliciosos (nunca se esquece o sabor do brufen!) e depois dos comprimidos. Recordo-me da primeira vez que engoli um Ben-u-Ron. Tomava-me como crescida, um grande passo para a minha pessoa! Mal senti aquela bola desconfortável a arranhar-me a garganta, perguntei à minha mãe onde estava o xarope.
Ao longo dos anos, quando recorria ao Serviço de Urgência, sentia-me cada vez mais crescida, cada vez mais capaz de me explicar por mim própria. Mas a minha mãe ia sempre comigo.
Até que um dia, fiquei tão adulta que disseram: "A menina já está muito crescida, tem que entrar sozinha".
Lá entrei, sabia que estaria sempre bem. Porque a minha mãe estava lá fora, à minha espera.
Um dia, às 4 da manhã, tive uma crise renal tão aguda que depois de vomitar e ficar esverdeada, a minha mãe levou-me às urgências. A enfermeira impôs que como já era crescida tinha que ficar sozinha a passar lá a noite. A minha mãe, com a serenidade que a caracteriza, perguntou-me o que preferia. Eu sabia que já era grande! Em breve ia fazer os exames nacionais do 11º ano. E sabia que qualquer dor era suportável, com os mimos da minha mãe. Pedi-lhe que ficasse. Sem questionar, ela disse à senhora enfermeira que eu queria a sua companhia. A enfermeira disse que isso não tinha jeito nenhum, que então não podia ficar na maca, que ficava na cadeira, já que queria tanto a minha mãe. E a minha mãe, como qualquer mãe, conseguiu que eu ficasse na maca e com uma cadeira ao lado na qual ela se sentaria a passar o resto da noite comigo.
Ontem, no 3º ano de medicina, fui levar a primeira dose da vacina para a Covid-19. Fui chamada para uma dose que restava então fui diretamente para uma sala de espera no centro de saúde. E ao meu lado?
Ao meu lado estava a minha mãe, com a serenidade que a caracteriza, a dar-me a mão e os seus mimos.
Sei que um dia serei demasiado crescida para a minha mãe não me poder fazer mais companhia na espera do hospital.
Mas hoje?
Hoje sou dela como ela é minha.
Porque será sempre minha mãe e eu serei sempre sua filha.
Autoria: Carolina Malta Gomes
Edição de Imagem: Catarina Simões
POETAS DE ESTETO NA MÃO | A Guerra
Meu filho, resguardei-te nos meus braços,
Quando os mísseis caíram, de manhã,
E observei, através dos olhos lassos,
Que já não existia um Amanhã.
Tudo tremia, a cada explosão.
E eu revivia a noite do dia antes:
O medo, a dor e a última paixão.
Então levei ao céu mãos suplicantes.
Rezei por esperança, se existia.
A cólera acendeu-se no meu ser!
E a dor, a grande dor que me feria:
Ali estava, incapaz de proteger.
E perguntavas pela tua mãe;
Eu menti-te com toda a minha força:
“Hoje a mãe não se sente muito bem…”
(Era como o bramido de uma corça
O choro de órfãos e dos mutilados,
Dolorido e manchado do seu sangue.
Nas praças e nos bairros desolados
Restava a gente anónima e exangue).
Fúteis impérios trazem arsenais
De mentiras: “justiça”, “paz”, “nação”.
Mas para eles já não somos mais
Vidas – apenas carne pra canhão.
Não sabias que a mãe não respirava,
Ou que eu tinha chorado a noite inteira.
E, quanto mais a noite se adentrava,
Mais a vi como a noite derradeira.
Tu, filho, continuavas inocente,
Não estranhavas não ter a mãe connosco.
Eu dizia “Ela dorme, calmamente”,
Enquanto preparava um jantar tosco.
Mas tudo cessou, para meu espanto.
“Desenha, brinca!... Não perguntes mais!”
“Mas, ó pai, a ferida dói-me tanto!”
Algures começaram funerais.
Os morteiros pararam, por momentos;
As igrejas chamavam os fiéis.
Os segundos seguiam, mas tão lentos,
Que até me pareceram ser cruéis!
Um carro armadilhado rebentou,
Símile a um Sol doente, falsa luz!
Desfez-se o mundo em cinza – e cinza sou.
Em vez de paz, ofereço-te uma cruz.
Um míssil cortou o ar, como uma fouce,
Atravessando com sons sibilantes.
A casa colapsou, o ar inflamou-se,
Arderam-nos os corpos em instantes,
Mas tu não sabes que nós já morremos
E na vala comum repousaremos…
Por isso faz aquilo que te peço:
Deita-te e fecha os olhos.
- Adormeço…
Autoria: João Almeida
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Iludida de Conhecimento
Estudei placas tectónicas e mares ancestrais,
mas não sabia que podia tremer
só por me tocares.
Li sobre as estrelas, constelações e radiações,
mas de olhos fechados,
os teus beijos fazem-me ver cores que não existem.
Elementos químicos, medicamentos, guerras mundiais,
pensei que já sabia tanto,
até me mostrares uma nova enciclopédia de sensações.
Ensinaram-me lógica, equações, geometria
e o teu corpo veio desvendar novas formas e razões.
Fotossíntese, leis da física, anatomia,
ninguém me explicou que era para isto que servia a pele,
os braços, as pernas, o coração.
Estantes cheias de livros e passaporte preenchido de carimbos,
nunca me apercebi do quão perdida poderia estar,
até ficarmos sozinhos, entre quatro paredes.
Autoria: Bruna Paulino Alves
Edição de Imagem: Catarina Simões
RESSONÂNCIA | Haemorrhagia
Sinto em mim, por vezes, presença marcada, de uma hemorragia interna. Sinto-a, e se a sinto é para além do corpo, muito para além de onde consta a alma.
É um derrame que se acredita, um fluxo autónomo da carne que se reconhece em contração. Batimentos, esses, que se reproduzem em intensidade; sobre as bases do meu pescoço, um gotejar que se faz arquitetado p'la melancolia. Ferimentos como este, revelariam internamente uma circunstância assaz impura, mais para lá, a partir dos vasos fundos.
Confesso, pois, aos antros nocivos do meu nervo mediano, que pulsante agora enfermo se encontra em nevralgia, os segredos equidistantes do meu ritmo de pulso; pulso esse, que me habita o ser por dentro.
O resultado em tudo isto, é a inconsequência bárbara de eu ser quem sou; pois que nisto, numa póstuma perseguição que me faço p'lo rumo interno, o que realmente importa é a ausência de sentido; e a razão: uma noção do inconsciente.
Já ninguém se preocupa verdadeiramente com a questão do centro. Nos dias de hoje, o sonho labirinta através do sangue, mas se germina e se habita, algures, através de um ninho, o fazendo, é no delírio; e o delírio tem muito que se lhe diga, porque o delírio é tudo. O delírio, na periferia, é a solução do universo.
Infelizmente, eu e o universo somos porções de uma mesma distância, inculpada ao infinito. Talvez quando o mesmo se encontre em derradeira decadência, nos encontremos: face a face, vigaristas, numa mesma porta.
Autoria: Tiago de Sousa
Edição de Imagem: Catarina Simões
MedFit | Os Grandes Debates
[1] Passaporte Biológico: A nova arma contra o doping?
Doping: O segredo de muitos para as medalhas. Desde as substâncias mais simples da nossa vida diária a substâncias que chegam a colocar em risco a vida do atleta. Isto, para que, atinjam resultados e valores que, por vezes, roçam o sobre-humano. É um tema falado e discutido há muitas décadas, no entanto, devido à evolução da tecnologia, métodos de dopagem mais subtis e difíceis de identificar têm sido utilizados. Chega-nos então o passaporte biológico de forma a colmatar a dificuldade na deteção de muitas substâncias proibidas.
O passaporte biológico, criado pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), visa o combate à dopagem através da monitorização de determinados parâmetros biológicos obtidos através de amostras de sangue e de urina que, de uma forma indireta, possam revelar os efeitos da utilização de substâncias ou métodos proibidos em oposição às estratégias tradicionais onde é somente detetada a substância, caso esta ainda esteja no corpo do atleta. Basicamente, evidencia perfis biológicos anómalos que possam determinar a existência de violações às normas antidopagem.
Neste momento, a AMA concebeu 3 módulos: o módulo hematológico, esteróide e endocrinológico, mas somente os dois primeiros se encontram a ser realizados na prática, por agora.
Este novo sistema permite identificar os praticantes desportivos que utilizam métodos de dopagem sanguíneos ou esteróides endógenos, tais como a testosterona. A partir do momento em que um praticante desportivo tenha o seu passaporte biológico, será impossível não ser descoberto se recorrer a estas técnicas de modo a melhorar o seu rendimento desportivo.
Sobra-nos apenas a questão: Até onde podemos ir de modo a combater o doping?
[2] Identidade de Género e Variabilidade Sexual: Mudança de Paradigma no Desporto
Todas as pessoas têm o direito de praticar desporto sem discriminação e de uma forma que respeite a sua saúde, segurança e dignidade. Ao mesmo tempo, a credibilidade de um desporto competitivo - e particularmente de uma competição desportiva de alto-nível - baseia-se num “level playing field”, onde nenhum atleta poderá ter uma vantagem injusta e desproporcional em relação aos outros. (1)
Foi assim que, em 2021, o Comité Olímpico Internacional (COI) introduziu a publicação de novas diretrizes sobre equidade, inclusão e não discriminação com base na identidade de género e variações sexuais. Através de um guia com 10 princípios, de entre os quais se destacam a autonomia corporal dos atletas, não assumpção de vantagem, justiça, entre outros, o COI proporcionou um documento orientador para a criação de critérios de regulamentação da participação de atletas trans e não-binários pelas entidades responsáveis pela organização de eventos desportivos. (1) Numa frase: atletas LGBT são atletas.
Por definição, as pessoas transgénero são pessoas cuja identidade de género é diferente do sexo atribuído à nascença. Algumas pessoas transgénero não se identificam com o género feminino ou masculino, ou identificam-se com uma combinação de ambos os géneros, existindo diversos termos utilizados pelas pessoas que não se identificam como totalmente homens ou mulheres para descrever a sua identidade de género, nomeadamente o termo “não binário”. (2)
A inclusão de pessoas trans e não binárias nas competições desportivas, principalmente nas de alta-competição, tem sido um tema particularmente fraturante nas últimas décadas. As primeiras guidelines de regulamentação da participação de atletas trans nos jogos olímpicos surgiram apenas em 2003, incidindo em 3 premissas: cirurgia de redesignação sexual, reconhecimento legal do seu género e terapia hormonal apropriada. (3) Mais tarde, a divisão de categorias de género no desporto virou-se para os níveis de testosterona inferiores a 10 nm/L, sendo este o principal critério utilizado atualmente na maioria das competições desportivas. (4)
Este tema gera várias questões controversas, quer dentro das áreas científicas, quer a nível de ética desportiva. Será a obrigatoriedade da medição dos níveis de testosterona um bom critério? Ou serão estes níveis altamente variáveis entre sexos? Será uma melhor performance influenciada apenas pelos níveis desta hormona? Que outros fatores poderão estar envolvidos? Será que o futuro das competições desportivas não deve visar a categorização binária?
Com a evolução do conhecimento científico e a mudança do panorama social atual, nós podemos estar perante uma altura histórica no mundo desportivo. Se queres saber mais sobre o assunto e ouvir perspectivas diferentes, junta-te à round-table organizada pelo MedFit no dia 24 de abril!
Referências Bibliográficas:
Autoria: Ana Rita Monteiro [1], Bruna Alves [2] e Francisco Pedro [2]
Edição de Imagem: Catarina Simões e Felipe Bezerra
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Eu Egoísta
No espaço Eu entro
Do espaço Eu saio
Sendo aí o seu fim
O meu pensamento no outro
No outro o meu
Enganando-se o Eu assim
Ao espaço Eu volto
O outro, Eu vejo
Ciente eu fico
Do egoísmo que abranjo
No espaço eu entrei
Do espaço eu saí
Não ficando por aí
O meu pensamento no outro
No outro não o meu
Note-se o egoísmo do meu eu
Mesmo assim
Sabendo a verdade
O eu inconsciente
Procura a irrealidade
Autoria: Beatriz Azevedo
Edição de Imagem: Catarina Simões
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Intermitentemente
O tempo balança o cálice
E eu flutuo no limbo,
O abismo da consciência.
Caio, quase.
E nesse movimento inconstante
A dor flui através da cristalina taça
E salpica o meu disfarce,
Que se desfaz,
Intermitentemente.
Autoria: Pedro Santos
Edição de Imagem: Catarina Simões
DATAS ESPECIAIS | Dia do Pai
Tantas memórias de ti,
Tantas coisas que a teu lado aprendi
Tantos “Era uma vez” que ficaram a meio porque adormeci
Eu ou tu? Na verdade, já esqueci …
Tantos dias que passaste a dar-me a mão
Percebo agora que encobriste tanta emoção
Cansaço, frio, ansiedade ou até loucura
Só para que a criança em mim se sentisse tão segura
No teu olhar palavras de conforto
Palavras tuas que tanto procuro,
O teu abraço seguro
Sempre um porto para mim
Agora e até ao fim
Porque pai,
Podes estar longe de mim,
Mas nunca, nunca
Me esqueço de ti!
Autoria: Diana Santos
Edição de Imagem: Catarina Simões
ÂNSIA CRÓNICA | Árvore de Fruto
I
Não pensei viver o suficiente
Para ver o dia em que me tornaria
Na minha mãe.
Vi no meu pavio curto
O sabor amargurado
Do fruto da árvore
Que não cai longe da sua vizinhança.
Apodreci.
Morreu um sonho de criança.
II
Aconteceu. Vi nas minhas próprias palavras os jeitos da minha mãe, no meu sarcasmo o seu desdém. Olhei para ele com a fúria que era de mim para mim pela autorrealização deste pesadelo de criança. Foi a única coisa que alguma vez prometi a mim mesma, numa ingenuidade crente, que não iria procurar constantemente uma razão para residir na amargura, que não ia pôr o peso nos outros daquilo que apenas me aflige a mim. A mim, a mim, a mim. Que não ia olhar o mundo como seu epicentro e acabei vítima de ser vítima.
Porque não dizia nada há alguns segundos, tempo a mais quando o rácio de emoções fortes por centímetro quadrado é elevado, ele repetiu que não me percebia. Disse que eu não tinha sempre razão (factual) e que não posso exigir que saiba sempre o que quero (porra, é verdade). O problema é meu, pensei. Os outros não são obrigados a obedecer às expectativas que eu criei, as quais não têm ideia que sequer existem. Será que a minha mãe também tem esta autoperceção? Será que por eu ter quer dizer que ainda há esperança para mim? Espero que sim.
Voltei a mim (e a ele). “Vou-te dar mais tempo do que eu dou a mim própria para perceber o que quero. Tempo suficiente para perceberes o que eu quero, o que tu queres e a sobreposição das nossas vontades.”. É mais fácil pensar nele como alguém que vive noutro fuso horário. Somos ambos carne e osso e dotados de inteligência, arte e amor, simplesmente chegamos às mesmas conclusões a diferentes horas do dia. Que seja a paciência a virtude que não herdei, mas construí. Que caia longe o fruto da árvore de onde nasci.
Autoria: Anónimo
Edição de Imagem: Catarina Simões
DATAS ESPECIAIS | Dia da Mulher
Edição de Imagem: Catarina Simões
Um Dia Que Se Repete
Acordo esperançosa no dia da mulher, que me permite uma reflexão sobre a metamorfose do nosso lugar na sociedade. Regozijo-me ao ver cada vez mais reconhecimento dos inúmeros papéis que desempenhamos. Por mais que o caminho até à paridade seja longo, penso-nos a caminhar no bom sentido. Gostava que a polaridade desta reflexão tivesse acompanhado o meu dia. No entanto, parecia estar tudo do avesso…
Dirijo-me ao escritório pouco antes do frenesim da hora de ponta. Sento-me no metro com a mala no colo. Entra atrás de mim um senhor de meia idade. Ocupa o banco do lado e expande as pernas, como se os seus joelhos estivessem a passar por um divórcio complicado. Encolho-me contra a janela, quase a fundir-me com o vidro.
O dia começa com uma reunião com um daqueles clientes a quem se chama educadamente complicado. O meu chefe de equipa insistiu que eu presidisse. Apesar de ser trabalho que não me compete, ele acha que sou muito paciente - esperava que pudesse antes admitir que sou competente. Faço-me acompanhar do Jaime,um colega que está sempre a par do meu trabalho.
A reunião não levava meia hora, e já estava a ativar todos os planos de contingência para manter o ar impávido e sereno. Não bastava a rispidez e o descrédito no tom de voz, o fulano passou o tempo todo a falar para o Jaime, mesmo depois de lhe ter indicado que era eu a dirigir a reunião. Pergunto-me como seria se, em vez do Jaime, tivesse trazido a minha colega Joana…
Saio frenética em direção ao café, na esperança de apanhar o senhor Alberto bem disposto. Algum dia terá de acontecer. A meio caminho, uma senhora interpela-me. Tem olhos encovados e cabelo grisalho, uns setenta anos a julgar pelo semblante de simultâneo cansaço e ar estoico de quem não antecipa a tarde que cai. Estende-me uma gerbera cor-de-rosa num canudo de papel kraft. “Um feliz dia, menina!” exclamou, sorridente. Agradeci, sorrindo de volta, e segui levando na mão o lembrete folhoso deste dia, presságio do que se avizinha.
O café do senhor Alberto conta com a mesma meia dúzia de pessoas e pastéis de nata na vitrine. Aproximei-me do balcão. Franziu-se-lhe o sobrolho ao ver a flor na minha mão e nem me deu tempo de dizer ‘boa tarde’. “ Que mariquice, sabe que o que as mulheres mais nos dão são dores de cabeça!” Numa tentativa hercúlea de não revirar os olhos, ri-me, quase em desespero. “Oh, Senhor Alberto, acordou com os pés de fora hoje? Então que mal é que lhe fizeram as mulheres?” “Olhe menina, se começar a falar da minha mulher, não saímos daqui hoje” disse, carrancudo, entre risadas. Aposto que a mulher dele adora esta piada. “Só não percebo a necessidade de haver um dia para as mulheres. Então e o dia dos homens?” Continuou Alberto, barista de profissão, ativista de bancada nas horas vagas. O que eu oiço por um pastel de nata…
A tarde segue com uma tarefa de recrutamento para uma nova rececionista. Ao entrar no escritório, passo pela fila de jovens que aguardam sentadas, de papéis no colo e flores em riste. Escolho chamar de entre o lote a mais convencionalmente atraente, como se de uma vaga para modelo se tratasse, tentando antecipar o supérfluo julgamento do meu chefe. O instinto não me falhou: entrevistadas todas as candidatas, ficou a primeira que escolhi. “Muito competente e assertiva, não achas?” Perguntou.
Regresso ao conforto das paredes da minha casa, onde sou recebida pelo meu filhote com entusiasmo distinto. “Mãe, olha o que fiz na escola hoje!» Apressou-se a retirar da mochila um canudo de papel, com um desenho que assumi ser o meu retrato, adornado com uma capa vermelha. “És tu, mãe! Uma super-mulher!”
Autoria: Ana Rita Peixeiro e Pedro Sousa
Minha Menina
Minha menina,
Teu pronome é d’Ela,
Não importa se tens nome ou cara
Que o mundo define-te p’lo ventre.
Esta é a tua sina
Mesmo que não queiras ir em frente
E quando toda a convenção te para
Desistes de partilhar a tua tela.
De novo a tão certa dor mensal
E passa se o analgésico tomar!
Já as outras... conservo por ser hábito passional!
Onde se pede com sentimento
À ordem que do tudo faz nada?
Pode ser coisa do feminino
O respeito pela igualdade,
Mas devia estar no regulamento
Por ser um direito viver a sério a liberdade!
“Dispa-se! Deite-se” – aqui vai mais um dia cretino.
Será isto o patriarcado ou é assim no hospital?
É dramático o teatro da maternidade
Entre milagres e gritos de guerra
Que uma mãe não foi só educada
Para a feitoria do jantar.
A mulher continua a ser uma fada
Seja do lar ou da ficção
E é sensual a misoginia
Que nos lisonjeia de perversão.
Vai longa a tempestade
Para as netas da nação!
Minha mãe lá do alto da serra
Disse-me que não podia andar sozinha
Apesar de já ser uma mulherzinha,
Mas nutrida pela teimosia da emancipação
Fui à procura das insensatas brigas. Vagueio agora pela noite sem companhia
E sinto que preciso das minhas amigas.
O perigo espreita e eu corro,
Mas desta vez descontrolei-me na indecência:
- “Porque não me dás o teu coração?”
Ela rejeitou negociar a sua independência Por não confiar na armadilha
E ao longe viu confirmar-se:
- “Tem de tomar esta contraceção
Por ser seu o peso da responsabilidade
E assim foi sempre de filha em filha
Que a lenda ainda hoje anda errada.
Se sentir a injusta opressão,
Na dúvida faça uso do NÃO, muito obrigada!
Autoria: Catarina Monteiro
POETAS DE ESTETO NA MÃO | Platónico & Furto
Platónico
De mim se desprende o coração
Ao não te ter comigo no leito, em cada luar
Voltas dou em torno de mim
Só para nos meus sonhos, te poder encontrar.
Ao fechar os olhos, já te consegui imaginar...
O sabor dos teus beijos, a textura da tua pele
Ah! O absoluto do teu olhar...
Na minha mente tu moras, no meu corpo tens onde pousar, és a âncora dos meus dias, o esqueleto que em mim se faz moldar.
Escrevo palavras, que por si só não são nada, mas quando em ti penso, logo elas me privam do ar...
Como estático fica o meu ser, ao ver-te pela porta entrar.
Furto
Pulsa,
Instável
E apertado
O teu coração, nas minhas mãos.
Suadas, por entre elas escorres, por entre elas és meu.
Geme, vibra, sente, este órgão que não é mais teu, mas que em mim vive.
Autoria: Pedro Rainho
Edição de Imagem: Catarina Simões
ÂNSIA CRÓNICA | No Campo do (Des)amor
Escreve-se muito sobre o amor. Porventura ainda mais sobre o desamor, mesmo que não se queira admitir. O que permanece por ser escrito vai-se vivendo ou esmorecendo, com a ilusão de que será diferente de uma próxima vez, quando chegar; ainda que chegue sempre, mas nem sempre seja suficiente.
Não será novidade escrever que o amor cega ou que esta cegueira é particularmente agressiva para quem não quer ver. Caminha-se uma vida inteira com blindagem contra a desilusão, com lucidez e racionalidade que se pensam ser em doses certas para afastar qualquer hipótese de coração partido e, contrariando os mais céticos, até vai funcionando. Mas há momentos - épocas, diga-se, porque de brevidade nada têm - em que a infalível proteção cai ou em que o escudo é voluntariamente deitado ao chão. Os muros são derrubados e a cegueira é tal, que qualquer atacante só é percecionado quando já não há possibilidade de recuperar o território invadido.
As pessoas não gostam que lhes digam a que horas devem acordar e vai-se tornando transversal a todos os campos de batalha esse vício de ignorar alarmes. Eles tocam e tocam e tocam. Só que esta forma peculiar de cegueira também ensurdece.
Permanece-se dando o peito às balas ou às setas do cupido, que não é por não serem reais que doem menos. Sem cerimónia, as costas são apunhaladas com uma celeridade e eficácia desmedidas. Nessa altura, em modo de câmara lenta, a visão turva não parece afetar a clareza colossal com que se assiste aos golpes que chegam apadrinhados pelo afiado sentimento. O atacante pára para olhar e vai demorando enquanto vê; vê porque não cegou. Permanece, fica, resta. Planeia a próxima emboscada e só se distancia da presa depois de se salvaguardar noutra terra firme.
As setas acabam, mas o coração ferido ainda bate. Sobra crueldade no abandono de um peito aberto a golpe, que outrora se abriu somente para servir de aconchego. Porém, se enquanto há vida há esperança, o coração que ainda bate é um bom indicador: certamente aguardará a próxima batalha no campo do amor.
Autora: Beatriz Francisco
Edição de Imagem: Catarina Simões