MedFit | Os Grandes Debates

[1] Passaporte Biológico: A nova arma contra o doping?

Doping: O segredo de muitos para as medalhas. Desde as substâncias mais simples da nossa vida diária a substâncias que chegam a colocar em risco a vida do atleta. Isto, para que, atinjam resultados e valores que, por vezes, roçam o sobre-humano. É um tema falado e discutido há muitas décadas, no entanto, devido à evolução da tecnologia, métodos  de dopagem mais subtis e difíceis de identificar têm sido utilizados. Chega-nos então o passaporte biológico de forma a colmatar a dificuldade na deteção de muitas substâncias proibidas. 

O passaporte biológico, criado pela Agência Mundial Antidopagem (AMA), visa o combate à dopagem através da monitorização de determinados parâmetros biológicos obtidos através de amostras de sangue e de urina que, de uma forma indireta, possam revelar os efeitos da utilização de substâncias ou métodos proibidos em oposição às estratégias tradicionais onde é somente detetada a substância, caso esta ainda esteja no corpo do atleta. Basicamente, evidencia perfis biológicos anómalos que possam determinar a existência de violações às normas antidopagem.

Neste momento, a AMA concebeu 3 módulos: o módulo hematológico, esteróide e endocrinológico, mas somente os dois primeiros se encontram a ser realizados na prática, por agora.

Este novo sistema permite identificar os praticantes desportivos que utilizam métodos de dopagem sanguíneos ou esteróides endógenos, tais como a testosterona. A partir do momento em que um praticante desportivo tenha o seu passaporte biológico, será impossível não ser descoberto se recorrer a estas técnicas de modo a melhorar o seu rendimento desportivo.

Sobra-nos apenas a questão: Até onde podemos ir de modo a combater o doping?

[2] Identidade de Género e Variabilidade Sexual: Mudança de Paradigma no Desporto

Todas as pessoas têm o direito de praticar desporto sem discriminação e de uma forma que respeite a sua saúde, segurança e dignidade. Ao mesmo tempo, a credibilidade de um desporto competitivo - e particularmente de uma competição desportiva de alto-nível - baseia-se num “level playing field”, onde nenhum atleta poderá ter uma vantagem injusta e desproporcional em relação aos outros. (1)

Foi assim que, em 2021, o Comité Olímpico Internacional (COI) introduziu a publicação de novas diretrizes sobre equidade, inclusão e não discriminação com base na identidade de género e variações sexuais. Através de um guia com 10 princípios, de entre os quais se destacam a autonomia corporal dos atletas, não assumpção de vantagem, justiça, entre outros, o COI proporcionou um documento orientador para a criação de critérios de regulamentação da participação de atletas trans e não-binários pelas entidades responsáveis pela organização de eventos desportivos. (1) Numa frase: atletas LGBT são atletas. 

Por definição, as pessoas transgénero são pessoas cuja identidade de género é diferente do sexo atribuído à nascença. Algumas pessoas transgénero não se identificam com o género feminino ou masculino, ou identificam-se com uma combinação de ambos os géneros, existindo diversos termos utilizados pelas pessoas que não se identificam como totalmente homens ou mulheres para descrever a sua identidade de género, nomeadamente o termo “não binário”.  (2)

A inclusão de pessoas trans e não binárias nas competições desportivas, principalmente nas de alta-competição, tem sido um tema particularmente fraturante nas últimas décadas. As primeiras guidelines de regulamentação da participação de atletas trans nos jogos olímpicos surgiram apenas em 2003, incidindo em 3 premissas: cirurgia de redesignação sexual, reconhecimento legal do seu género e terapia hormonal apropriada. (3) Mais tarde, a divisão de categorias de género no desporto virou-se para os níveis de testosterona inferiores a 10 nm/L, sendo este o principal critério utilizado atualmente na maioria das competições desportivas.  (4)

Este tema gera várias questões controversas, quer dentro das áreas científicas, quer a nível de ética desportiva. Será a obrigatoriedade da medição dos níveis de testosterona um bom critério? Ou serão estes níveis altamente variáveis entre sexos? Será uma melhor performance influenciada apenas pelos níveis desta hormona? Que outros fatores poderão estar envolvidos? Será que o futuro das competições desportivas não deve visar a categorização binária?

Com a evolução do conhecimento científico e a mudança do panorama social atual, nós podemos estar perante uma altura histórica no mundo desportivo. Se queres saber mais sobre o assunto e ouvir perspectivas diferentes, junta-te à round-table organizada pelo MedFit no dia 24 de abril!


Referências Bibliográficas:

  1. https://stillmed.olympics.com/media/Documents/News/2021/11/IOC-Framework-Fairness-Inclusion-Non-discrimination-2021.pdf?_ga=2.195521836.1048075235.1637092563-834742310.1637092563

  2. https://transequality.org/issues/resources/frequently-asked-questions-about-transgender-people 

  3. https://www.pdga.com/files/StockholmConsensus_0.pdf

  4. https://stillmed.olympic.org/Documents/Commissions_PDFfiles/Medical_commission/20 15-11_ioc_consensus_meeting_on_sex_reassignment_and_hyperandrogenism-en.pdf

Autoria: Ana Rita Monteiro [1], Bruna Alves [2] e Francisco Pedro [2]

Edição de Imagem: Catarina Simões e Felipe Bezerra