Sinto em mim, por vezes, presença marcada, de uma hemorragia interna. Sinto-a, e se a sinto é para além do corpo, muito para além de onde consta a alma.
É um derrame que se acredita, um fluxo autónomo da carne que se reconhece em contração. Batimentos, esses, que se reproduzem em intensidade; sobre as bases do meu pescoço, um gotejar que se faz arquitetado p'la melancolia. Ferimentos como este, revelariam internamente uma circunstância assaz impura, mais para lá, a partir dos vasos fundos.
Confesso, pois, aos antros nocivos do meu nervo mediano, que pulsante agora enfermo se encontra em nevralgia, os segredos equidistantes do meu ritmo de pulso; pulso esse, que me habita o ser por dentro.
O resultado em tudo isto, é a inconsequência bárbara de eu ser quem sou; pois que nisto, numa póstuma perseguição que me faço p'lo rumo interno, o que realmente importa é a ausência de sentido; e a razão: uma noção do inconsciente.
Já ninguém se preocupa verdadeiramente com a questão do centro. Nos dias de hoje, o sonho labirinta através do sangue, mas se germina e se habita, algures, através de um ninho, o fazendo, é no delírio; e o delírio tem muito que se lhe diga, porque o delírio é tudo. O delírio, na periferia, é a solução do universo.
Infelizmente, eu e o universo somos porções de uma mesma distância, inculpada ao infinito. Talvez quando o mesmo se encontre em derradeira decadência, nos encontremos: face a face, vigaristas, numa mesma porta.
Autoria: Tiago de Sousa
Edição de Imagem: Catarina Simões