PESCADOR DO TEMPO

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Solidão.

Um olhar gasto que vagueia nuvens de fumo,

Viciante, perigoso,

Numa agonia nostálgica.

Pescador,

Isolado das vozes e murmúrios do universo,

Diz-me o que pensas...

Os teus ombros carregam memórias,

As tuas mãos lembram histórias

De esforço impiedoso, em tempos perdidos.

Diz-me o que te afasta do barulho da multidão...

Será um amor perdido?

Romance proibido?

Delicados lábios rúbeos,

Madeixas reluzentes,

Uma pele suave beijada pelo sol?

Perdeste a tua oportunidade? Conta-me porquê...

Será a recordação dos teus companheiros destemidos,

Esquecidos nas noites de desordem temporal?

Conta-me vigorosas viagens de perigos incomparáveis

Que afastam a tua mente

Deste dia,

Deste momento.

Será o tormento da maré,

O chiar do vento

Que deixam o teu espírito voar,

Apoderar-se das partículas do ar?

Para onde vais?

Leva-me contigo...

Solidão.

Será esse também o meu futuro?

Conta-me os teus segredos,

Explica-me porque estás tão só, nesta tarde de verão.

Pescador,

Eu vejo no teu olhar,

Eu escuto na tua voz.

Pescaste a vida toda,

Mas agora não consegues pescar

O que realmente precisas,

O que mais desejas.

Pescador não pode pescar o tempo.

Texto: Bruna Paulino Alves - 2º ano

Ilustração: Felipe Bezerra - 3º ano