ESPANHA

Espanha.jpg

 Processo de Candidatura

 Overview:

  • Para fazer a especialidade médica em Espanha é necessário realizar o exame MIR (Médico Interno Residente). 

  • O exame funciona da seguinte maneira: são 175 perguntas, com 10 perguntas de reserva para o caso de alguma ser anulada (o que acontece quase todos os anos); à diferença da PNA, as respostas erradas descontam 0.3 e portanto a nota final é em "netas" (perguntas certas menos perguntas erradas) - por probabilidades matemáticas compensa responder a todas e é o que (quase) toda a gente faz; a nota final compõe-se 90% da nota do exame e 10% da nota final da faculdade (não é exatamente a média aritmética, é com uma ponderação de classificações, para quem vem do estrangeiro há uma aplicação do Ministério de Educação espanhol que faz a conversão - até porque as notas aqui são em 10 e não em 20 - eu saí até ligeiramente beneficiada em relação à minha média aritmética mas depende das notas que se tiver!). A partir daí, funciona como a PNA: a melhor nota escolhe primeiro e daí em diante.

  • Em termos de proporção vagas-candidatos, este ano por exemplo houve 16.000 candidatos e 7500 vagas. No entanto, estes números são um pouco "enganadores" porque aqui em Espanha por um lado há muitos estudantes da América Latina que se apresentam ao exame e têm vagas limitadas para eles (portanto todos os outros, ainda que tendo melhores notas, ficam excluídos do concurso) e por outro lado pode repetir-se o exame as vezes que se quiser (não há "Grupo B" para quem já tenha escolhido uma especialidade), e portanto há muita gente que vai só tentar e que não "compete" verdadeiramente com quem estudou "a sério". 

  • O grupo das pessoas que estudaram "a sério" é o grupo das pessoas que fizeram um curso numa academia de preparação para o exame. Existem três principais: AMIR, CTO e MIR Astúrias - eu fiz com a AMIR e gostei bastante. É possível fazer o curso online, mas na minha opinião é um erro, pelo menos a parte mais intensa do estudo, a partir do Verão, deve ser feita numa das sedes aqui em Espanha. Quero deixar muito claro que, na minha opinião, sem fazer um destes cursos é praticamente impossível obter uma boa vaga - ou uma vaga de todo. Estas academias são muito mais exigentes que as academias portuguesas - existem várias modalidades, mas a que a maioria das pessoas faz é o curso de preparação "normal" que começa em Setembro do 6º ano e acaba em Janeiro/Fevereiro do ano seguinte - portanto são 17 meses de preparação, em média, sendo que os meses de Setembro a Junho (primeiros 9 meses, que correspondem ao 6º ano) são muito light - mas os últimos 7 meses (de Junho/Julho a Janeiro/Fevereiro) são "até à morte". Para terem uma ideia do funcionamento destes cursos, dão-se 4 voltas à matéria: a primeira volta é a fase de contacto (durante o 6º ano), a segunda volta é a fase de consolidação I (no verão, primeira vez que se estuda "a sério"), a terceira volta é consolidação II (Outono até ao Natal) e a quarta volta é revisão (no mês antes do exame). Ao longo de toda a preparação fazem-se "Simulacros" de exames, primeiro de duas em duas semanas e depois todas as semanas. No total são 40 simulacros de exame, sendo que o último é no mesmo sítio onde se faz o exame real. A partir da segunda fase há que estudar 8-10 horas por dia, com aulas e/ou Simulacros todas as Sextas à tarde e/ou Sábados - e o Domingo é dia de descanso OBRIGATÓRIO - não se pode estudar (e ninguém estuda, MESMO!). Há uma semana de férias no final de agosto e outros quantos dias no final de outubro. No Natal e passagem-de-ano não há férias uma vez que o exame está mesmo à porta.

  • Portanto, em termos de timings (e em anos sem Corona!), começa-se a estudar "a sério" em junho, faz-se o exame no final de janeiro/início de fevereiro, escolhe-se vaga em abril/maio e começa-se a trabalhar no final de maio/junho. Para quem faz o ano comum, como eu fiz, pode estudar online desde setembro a dezembro do ano comum e em janeiro mudar-se para Espanha, para fazer o exame em janeiro do ano seguinte.

  • Para quem venha de Portugal, há um problema de burocracia que implica um problema de "timings". Os documentos necessários são:

    • Fotocopia de documento que confirme nacionalidade portuguesa (sendo de nacionalidade portuguesa ou de qualquer uma dentro da União Europeia, compete-se como cidadão espanhol, ou seja, não se entra no grupo de vagas para estrangeiros).

    • Documento de "Reconocimiento" da profissão médica ou "Homologación" do curso.

    • Certificado de conclusão do curso de Medicina, com a data de finalização.

    • Certificado de notas discriminadas por disciplina (não é suficiente a média).

    (Todos têm de estar traduzidos do Português ao Espanhol por um tradutor jurado, que conste das listas do ministério espanhol).

    • Diploma nível C1 ou C2 de Língua Espanhola pelo Instituto Cervantes.

  • O certificado de conclusão do curso e o certificado de notas é só pedir na faculdade onde se estudou e depois enviar para um tradutor jurado. O diploma de língua espanhola tem de se obter no Instituto Cervantes, portanto há que ter atenção às datas dos exames (só existem dois ou três por ano). 

Principais Dificuldades:

  • O "problema" está no reconocimiento ou homologación: a homologación é como se fosse uma "equivalência" ao curso, portanto é feita pelo ministério da educação e é muito mais complicada, muito mais cara porque se tem de pedir todos os documentos na faculdade de origem e traduzir tudo (a mim estimaram-me um preço de 1000€ pelo menos) e muito mais demorado (pode demorar de 1 a 2 anos) - portanto basicamente não é uma opção viável; a outra opção, o reconocimiento, é feito pelo ministério de saúde porque é um reconhecer da profissão médica regulada pela união europeia. É grátis e demora 2 ou 3 meses - mas o "problema" é que, visto que em Portugal não temos autonomia como médicos antes de terminar o ano comum, não podemos pedir este reconocimiento antes de terminar o ano comum. Ou seja, sim, é muito difícil vir fazer a especialidade para Espanha sem fazer o ano comum em Portugal primeiro. Eu queria fazer (e recomendo!) esse ano de formação, mas é algo a ter em conta.

 Internato

Pontos Positivos:

  • Dito tudo isto, e não querendo desencorajar ninguém, acho que apesar do processo ser difícil, o internato em Espanha vale a pena. O sistema de saúde é ótimo, há ótimos centros, os salários são ligeiramente mais altos (porque ainda que o salário base seja mais baixo, todas as urgências são pagas à parte e portanto ao final do mês ganha-se mais, cerca de 1800€ com uma urgência por semana e subindo todos os anos) e o custo de vida (exceto em Madrid e Barcelona) é relativamente "baixo" em comparação. A vivência do Internato é muito mais "simpática", da perceção que tenho - dependendo sempre do centro onde ficarem colocados.

Overview:

  • O internato em Espanha vale a pena, viver em Espanha vale a pena, mas o processo de candidatura é longo, difícil e por ser através de exame exige muito estudo e não dá quaisquer "garantias" de conseguir vaga - portanto eu diria que considerem Espanha uma opção apenas se, como eu, têm interesse pessoal em viver em Espanha neste período da vossa vida.

 Vivência do país

  •  Pontos Positivos:

    • Em termos da vivência do país, Espanha é muito giro! Há imenso ambiente sempre, há sempre pessoas na rua, há sempre coisas para fazer ou festas onde ir. Depende muito da região que escolherem para viver, mas acho que para a época de vida dos 20s e tal, é dos melhores sítios onde se pode estar!