FRANÇA
Processo de Candidatura
Overview:
Existe um exame nacional de seriação ECN, todos os anos entre maio e junho, para estudantes que estão no 6° ano. O exame são 3 dias e incluí 10 casos clínicos com resposta de escolha múltipla em que várias respostas podem estar certas e é feito em IPad. Inclui a matéria integral dos anos clínicos: todas as especialidades, e leitura crítica de artigo. Apesar de serem 3 dias de provas, mas convém reservar a semana toda caso seja necessário repetir uma ou mais provas (já aconteceu!).
O concurso está/estava aberto a qualquer aluno numa faculdade de medicina da UE, desde que estivesse matriculado no último ano.
Há possibilidade, no momento da inscrição, de inscrever-se à prova piloto que decorre em março. Eu não o fiz.
Os estudantes devem candidatar-se no início do ano a exame, o processo é feito online assim como a escolha de especialidade. O exame é, claro, presencial e no mesmo ano. As notas saem duas semanas depois do exame e a escolha de especialidade é feita geralmente em setembro. O contrato como interno começa em novembro. Não é possível começar mais tarde para vir a Portugal fazer o exame. O melhor que pode acontecer é pedir férias no serviço e ir a Portugal fazer o exame se quiserem, mas depois voltar.
Neste momento não há nota mínima no exame. Há especialidade para todos. São 8000 alunos por ano. Pior nota = especialidade em cidades menos famosas e claro que as especialidades mais concorridas ficam para quem tem melhor nota. É importante notar que França tem regiões autónomas para onde também se podem candidatar, os DOM-TOM: Guadalupe, Martinica, Guiana Francesa, ilha de Reunião, Nova Caledónia.
No que toca à prova em si: difícil, regras super estritas, não se pode levar nada exceto caneta, lenços, bolachas e água. Se possuírem algum material médico, ou problema de saúde, é necessário enviar comprovativos no momento da inscrição. Para a prova dispomos de um tablet, dão-nos folhas de rascunho de cor diferentes para cada prova e tampões de ouvidos para cada prova.
Depois em julho e agosto, colocamos os nossos desejos de vaga na plataforma e assim é possível fazer simulações bastante fiáveis. As escolhas decorrem de forma numérica em setembro (9000 candidatos em média).
Principais dificuldades:
Não foi possível escolher a localidade onde iria fazer as provas. Soube mais ou menos em abril e reservei então voo+hotel.
A bibliografia corresponde a uma lista de mais de 300 itens, com base nas ultimas edições dos colégios de CADA especialidade e normas da HAS (DGS francesa). Ou seja, pode sair TUDO. Os estudantes de medicina preparam-se muito cedo para este exame (no 4º ano em média).
Internato
Pontos Positivos:
Não existir ano comum.
A duração de especialidade que é geralmente 1 ano mais curta que em Portugal.
Possível fazer um ano sabático.
Medicina muito autónoma com independência e muita prática logo no 1°dia - dependendo da preparação de cada um, isto pode ser bom ou mau.
A partir do 3° semestre em MGF e do 3° ano noutras especialidades, podermos substituir colegas como "remplaçants".
Flexibilidade e permeabilidade entre especialidades.
Havendo falta de médicos, fazendo pós-graduações e estágios é possível, por exemplo, um MGF trabalhar em Cardiologia. Não quero com isto dizer que ele passe a ser cardiologista, contudo.
Eu estou bastante satisfeita de ter optado por voltar para França. Primeiro porque a formação de MGF é mais curta, sem ano comum nem nada, e para mim, o tempo conta.
Na prática, talvez sinta que tenho acesso mais fácil e rápido a exames complementares de diagnóstico, ou a enviar os doentes para outras especialidades, mas isso é discutível.
Não sinto tanta hierarquia nas equipas, tratamo-nos por “tu” muito rapidamente, entre enfermeiros, médicos, internos, etc… O ambiente é agradável. Mas não há aquela pausa no bar do hospital…lol, aqui o “bar” é mais uma máquina automática
Principais dificuldades:
É preciso pagar o internato. Aqui os internos são estudantes do terceiro ciclo, então paga-se propinas (502€ + uma cotização de 90€ para o fundo social de estudantes CROUS).
Overview:
O internato começa no dia 2 de novembro.
Durante o mês anterior, as faculdades organizam-se de maneira a reunir os internos 1 dia ou 2 para as apresentações gerais e definir os locais do primeiro estágio. Aqui o internato para todas as especialidades é organizado por estágios a cada semestre (de novembro a maio e de maio a novembro, ou seja, 2 estágios por ano). A nossa seriação na prova ECNi segue-nos até ao fim. Escolhemos os estágios em função dela.
Ir para um país diferente nunca é fácil, mas a longo prazo é uma mais valia enorme. E em caso de arrependimento, é simplesmente voltar para Portugal.
Em função das cidades e das vagas, é possível obter um alojamento no “internato” do hospital. Basicamente é um prédio com quartos para internos, cozinha, sala, com comida e quartos mobilados (comida do hospital e roupa de cama básica). Não se paga nada ou quase. Pessoalmente não optei por essa opção, mas podia. A cada 6 meses, muda o estágio e é necessário pedir novamente o quarto ou não…não há para todos.
Na cidade onde estou, posso deslocar-me a locais de estágio no máximo a 100km de casa. Mas noutras cidades, o raio pode ser bem maior, e aí, conseguir ter uma vaga no “internato” pode dar jeito.
O ordenado é basicamente de 1500-1900€ limpos entre o 1º e 3ºano (evolui a cada ano). Como não vivo no internato, recebo +80€. A cada noite que fizer é +120€; dia de domingo ou feriados +130€ bruto. Temos direito a 5 semanas de férias.
Vivência do país
Pontos Positivos:
França é muito semelhante a Portugal em termos de vida e há, para os que procuram, uma comunidade portuguesa enorme. Paris, a título de exemplo, é a segunda cidade do mundo com mais portugueses.
A língua é fácil de aprender, e estando em França em 3/4 meses é impossível não saber falar.
Principais dificuldades:
É preciso ver que se trabalha bastante. Teoricamente são 40h semanais, mas é sempre mais, a menos que se esteja num hospital de periferia e nesse caso por vezes nem as 40h são feitas.
Os franceses são muito diretos, pelo que podem parecer arrogantes ou antipáticos - o que não é verdade.
O custo de vida é pouco mais superior do que em Portugal, mas tudo depende da cidade claro.
Adaptação ao país:
A adaptação ao país é fácil e dos colegas que conheço que decidiram vir nenhum voltou à base. Sugiro, contudo, que façam Erasmus ou um estágio antes para ver se é o que procuram e se a realidade se coaduna com aquilo com que se sentem confortáveis.