irlanda
Processo de Candidatura
Outras informações:
Acho que o passo comum a todas as especialidades, e antes de qualquer candidatura, é a inscrição na Ordem Médicos Irlandesa (Irish Medical Council IMC). Pode ser feita em qualquer altura do ano desde que toda a papelada necessária esteja reunida. Aconselho que o façam o quanto antes, porque pode ser um processo demorado.
O processo de candidatura à especialidade na Irlanda é bastante diferente do que acontece em Portugal. As candidaturas são igualmente a nível nacional, mas diferentes para cada uma das especialidades. O que quer dizer que alguém com interesse, por exemplo, em MGF, Psiquiatria e MED Interna pode candidatar-se às três, mas através de 3 processos distintos e independentes.
As candidaturas online ocorrem 1x por ano e abrem em outubro normalmente.
É um processo feito a nível nacional e, como tal, temos de colocar por ordem de preferência os oito centros hospitalares (deaneries). Aqui entra a parte estranha de todo o processo. Sabemos que há 8 deaneries mas não sabemos quantas vagas existem em cada um deles, não sabemos quantos candidatos estão a concurso…e não há quaisquer listas. Os contactos com a college são sempre feitos por email, assim como os resultados que apenas nos são facultados (individualmente) por email.
Depois de feita a candidatura online, há uma entrevista (normalmente em Dublin). A minha foi em fevereiro de 2018, com 3 elementos durante cerca de 20min. Primeiro, discutem o CV - qualquer atividade extracurricular ou experiência profissional na área é valorizada. De seguida, fazem algumas perguntas teóricas, mas nada muito específico ou detalhado (risk assessment foi o tópico do dia pelo que me apercebi de outros candidatos). E uma terceira parte em que abordam aspetos mais relacionados com gestão e trabalho em equipa. Teoricamente, é-nos atribuída uma nota após essa entrevista e dependendo dessa nota ficamos na primeira, segunda, terceira…opção. Essas notas nunca são publicadas, nem temos conhecimento dos resultados dos restantes concorrentes. Apenas recebemos um email algumas semanas mais tarde a informar se nos foi atribuída uma vaga ou não e onde. Neste momento temos 2 opções: ou aceitamos de imediato essa vaga mesmo que não seja a nossa primeira opção ou recusamos e vamos a uma segunda fase podendo subir ou descer na tabela. Isto tem a ver com o facto de muita gente se candidatar a mais do que uma especialidade ao mesmo temo e é nesta fase que têm de optar por apenas uma.
Concluídas todas as fases, começamos a especialidade em julho (cada ano vai de julho a julho).
Portanto, mesmo começando a tratar das papeladas antes, como é essencial ter o AC, desde que o concluímos até iniciar a especialidade são cerca de 18 meses.
Principais dificuldades:
Ter o Ano Comum é fundamental já que um dos documentos que temos de enviar para inscrição no IMC e uma declaração emitida e enviada diretamente pela ordem portuguesa e em inglês que atesta que temos autonomia para praticar medicina e concluímos 24 meses de atividade clínica (inclui o 6ano profissionalizante + AC).
O processo pode tornar-se dispendioso, porque as cópias autenticadas ficam caras e, para além disso, têm de pagar uma application fee – 410€. Quando o processo estiver concluído e vos for atribuído um número têm de pagar a registration fee, 560€ (o equivalente às quotas em Portugal).
Internato
Pontos Positivos:
Temos direito a 32 dias por ano de “study leave” (divididos entre congressos, cursos presenciais ou online, exames e tempo de estudo pré-exame) + 24 dias de férias (13 dias de Jan-Jun + 11 de Jul-Dez).
Os exames são pagos e o serviço apenas paga a primeira tentativa para cada um. Há neste momento um fundo de 1200eur/ano/interno (por tempo limitado) disponibilizado pelo serviço nacional de saúde que cobre restantes tentativas ou inscrições em cursos ou congressos.
Overview:
Divisão em 2 blocos: BST (Basic training) e HST (Higher training). O BST são 4 anos: Foundation year, BST 1, 2 e 3. O HST vai depender da subespecialidade(s) pretendidas (são no min 3 anos). Basicamente, o BST é um tronco comum e mais generalista onde passamos por várias áreas da Psiquiatria.
Durante o BST, temos checkpoints anuais para avaliação do nosso progresso. Até ao final do BST, temos 2 exames escritos (Paper A e Paper B – UK, a Irish College está a preparar os seus próprios exames escritos, mas para já ainda fazemos os do UK) e 1 prático (ou 2 se quisermos fazer também o do UK, o que normalmente acontece).
No final do BST, temos um novo processo de candidatura à subespecialidade (muito semelhante ao de acesso à especialidade propriamente dita) de forma a ingressarmos no HST e, no final, podermos trabalhar como “consultants”.
Há algumas particularidades consoante o Deanery. Eu estou em Limerick e relativamente a horário de trabalho são 39h/semanais + urgências (on site – noutros hospitais são off site). Salário base aumenta a cada ano de especialidade (à medida que passamos de Senior House Officer para Registar).
Vivência do país
Pontos Positivos:
A Irlanda é um país lindíssimo e muito relaxado e as pessoas são simpáticas e acolhedoras
Principais dificuldades:
No que toca ao setor imobiliário, há pouca oferta e as rendas são elevadas. Mas em cidades como Limerick ainda é possível arranjar rendas aceitáveis.
Adaptação ao país:
Relativamente ao país, o custo de vida na Irlanda é, de uma forma geral, superior ao de Portugal, mas não podemos esquecer que o salário mínimo também é bastante mais elevado do que o português.
A minha adaptação foi mais fácil do que aquilo que imaginava, tanto a nível profissional como pessoal. Tenho uma boa qualidade de vida enquanto interna de Psiquiatria e consigo manter algum equilíbrio entre a minha vida pessoal e trabalho. Até agora, o balanço tem sido extremamente positivo e não estou nada arrependida da decisão que tomei.