Aquilo que me agarra à Medicina é a sua inutilidade quase tão óbvia como irónica, naquilo que é o seu combate eterno, contra a morte.
Luta como um miúdo franzino no pico da sua ira contra um matulão, ignorando a certeza que tem de que vai ser derrubado, uma e outra vez, até não mais se conseguir voltar a erguer. Mesmo com essa noção continua a bater... Tão forte, tão cega, tão segura de si...Não deixa de lutar.
A Medicina é uma inocente, é uma irónica e é uma arrogante. Não se convence que jamais vencerá a guerra, e saboreia e festeja cada vitória em pequenas batalhas. Sempre com essa ilusão quase insolente de que alguma vez conseguirá a vitória derradeira.
De facto, este jogo de marionetas que vivemos, sempre sem cabo de segurança, é uma lição engraçada. A maior de todas. Para não sermos arrogantes, talvez... Se calhar é Nosso Senhor a judiar connosco... Para se rir da nossa infantilidade, e para nos fazer ver o nosso ridículo.
Vejam bem, que o Mundo, sendo o que é, e a vida, sendo a estrela cadente que é e que se vai fugaz, cabem em tantos olhares (observadores atentos e pensativos) quantos queiramos. E parece sempre diferente. E vai-se a ver sempre igual. Como uma estrela cadente que, num ápice surge e se esfuma para sempre na calada da noite, sem muitas vezes termos tido tempo de a apreciar como merecia.
E aí está a Medicina, a travar desde o início dos tempos a única guerra que jamais poderá vencer. A mais brava guerreira nessa luta ingrata. Tiramos-lhe o chapéu e, por ela, daremos sempre o corpo às balas.
"E vamos pegar o Mundo,
Pelos cornos da desgraça.
E fazermos da tristeza,
Graça."
Fernando Tordo, in Tourada (Letra de José Carlos Ary dos Santos)
Rúben Simões, 3º Ano
Ilustração por Renata Costa