O ano é 2050, e 250 milhões de migrantes vagueiam pela Terra à procura de uma nova “casa”, um novo local que possam tornar seu. Desta vez, o culpado não é um ditador megalómano, direitos humanos inexistentes nem tão pouco um conflito bélico que se descontrolou. O verdadeiro “culpado” é o clima. Os recursos naturais são escassos, incluindo o mais importante: água potável. Os níveis crescentes da água do mar afogam localidade após localidade. Os fenómenos climáticos, antes previsíveis, são cada vez mais violentos.
O cenário distópico acima descrito parece longe da realidade, retirado de um livro de ficção científica ou de uma série. Porém, é muito real: em 2018, os fenómenos climáticos naturais forçaram a deslocação de mais de 17 milhões de pessoas para longe das suas habitações, muitas das quais não podem regressar. E, de acordo com as previsões da ONU, em cerca de 30 anos o número deverá aumentar 14 vezes.
Voltemos atrás no tempo. O ano é 2015, no auge da crise de refugiados, e o mundo é assoberbado pela problemática constante dos migrantes a entrar na Europa. Tráfico humano, travessias mortais através do Mediterrâneo, violações dos direitos mais fundamentais. E, ainda assim, o número de migrantes e refugiados a atravessarem as nossas fronteiras mal excedeu um milhão de pessoas. É difícil imaginar como é que conseguiríamos passar de um para 250 milhões de refugiados.
Estará a sociedade moderna pronta para as migrações que as alterações climáticas acarretam? A resposta é ambígua, mas o caminho ainda é longo. Várias organizações alertam para problemas, incluindo a inexistência do estatuto de “refugiado climático” na lei, o que os torna invisíveis aos olhos da mesma. É também importante relembrar que esta situação iria afetar desproporcionalmente os mais pobres e com menos recursos, populações já em risco.
A esperança não está perdida, mas temos de nos preparar para o pior. Se não conseguirmos impedir a catástrofe climática iminente, o mínimo que podemos fazer é acomodar as necessidades daqueles mais afetados pelas mesmas.
Começamos a sentir cada vez mais os efeitos das alterações climáticas, e brevemente os nossos erros vão alcançar-nos e atingir-nos em força. Estamos também cada vez mais cientes dos possíveis cenários que nos esperam: alguns toleráveis, alguns apocalípticos. É nosso dever prepararmo-nos para qualquer possibilidade, sem deixar ninguém à sua sorte.
Temos 31 anos. O relógio não para.
Texto: Maria Gouveia - 3ª ano
Ilustração: Ricardo Sá - 5ª ano