A geração Z saiu à rua para exigir que o mundo não acabe com os Millennials. Nascida nos finais dos anos 90, é a filha pragmática e realista da Internet, confortavelmente em constante crise de identidade. Não sobrevive sem os seus gadgets e está online 24 sobre 24 horas, contudo sonha com o passeio idílico no bosque ao som do cântico dos passarinhos. Será a feroz advocacia pelo ambiente fruto de um medo sério e verdadeiro da extinção?
Seria perfeitamente aceitável, já que qualquer um com acesso a fontes de informação fidedignas encontra facilmente a prova irrefutável que justifica esta preocupação: a terceira lei de Newton. Há mais de 350 mil anos que os seres humanos exercem uma força na Terra e a Terra exerce uma força nos seres humanos. Como a massa de toda a humanidade é muito inferior à do planeta, a aceleração da nossa decadência é muito superior. Não é ambientalismo, é física. Da mais simples que há. E a espécie humana é a primeira parcela da equação. Que ingrato plano Z!
E que ingrata geração Z! Esta última tendência da sociedade é o topo de uma cadeia evolutiva. Esta decorre de um longo caminho percorrido passo a passo pela humanidade, desde a revolução agrícola do Neolítico à Revolução Industrial. Durante este período ocorreu um aumento populacional sem precedentes, originando os ancestrais de muitos destes Z e possibilitando a chegada da sua amada era da informação. Em 2020, serão eles os principais consumidores, caracterizando-se por gostar de analisar e avaliar todas as opções antes de comprar ou usar um serviço, de preferência através das redes sociais. E porque não, quando nunca antes existiu tanto por onde escolher e a definição da identidade nunca dependeu tanto da personalização do produto, ou não seriam estes os dias para quem quer influenciar e deixar-se ser influenciado. A moda de hoje passa por beber leite de coco e comer tofu, uma vez que as importações não deixam pegada ecológica ou já crescem cocos em Portugal e eu não sabia.
É difícil no meio da actual inércia de medidas concretas saber se o ativismo vai para além da greve e da dieta. Para que todos (e todos, é mesmo todos os seres viventes que habitam nesta Terra) tenhamos futuro, talvez seja necessário cada um de nós poupar nas aspirações, reduzir o ter e reciclar o ser. Na ausência de alternativas viáveis que cheguem aos quatro cantos do planeta, medidas tão apregoadas como cortar imediatamente na eletricidade, no plástico ou no carvão, é suspender o potencial da evolução humana, sobretudo para os países em vias de desenvolvimento, atendendo a que grande parte dos serviços, da indústria e do sector primário, dependem enormemente destes recursos.
Enfim, o radicalismo ambiental significaria recuar décadas no tempo apenas com a memória do que já fomos e o sonho do que poderíamos vir a ser. Mas será que a Geração Z troca todo o conforto em que nasceu em nome do planeta? E o que será do destino da humanidade quando esta esquecer o seu desejo natural de ter mais, de aspirar a ser mais? Afinal, dizem que a geração Z são a geração que faz acontecer. E se para eles não acontecer... nada?
Texto: Ana Sofia Mota - 6ª ano
Ilustração: Pedro Nuno Fava - 2ª ano