SEMANA DA SUSTENTABILIDADE | O Negacionismo

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Em 1999, o político Thabo Mbeki foi eleito presidente da África do Sul. Ao longo da sua presidência de 8 anos, instituiu medidas que negaram o tratamento de doentes HIV+ com fármacos antirretrovirais, incluindo a substituição destes por medicamentos herbais como alho e beterraba, e a retirada de apoios a clínicas que ofereciam AZT a grávidas seropositivas. Fundamentaram estas medidas no negacionismo de que o vírus HIV causava SIDA e estima-se que estas políticas tenham sido responsáveis pela morte evitável de até 365.000 pessoas por HIV/SIDA.

O negacionismo científico pode ter consequências reais e até fatais.  Em 2009, o econometrista Pascal Diethelm e o médico Martin McKee, baseando-se no trabalho dos irmãos Mark e Chris Hoofnagle sobre o negacionismo, publicaram o artigo “Denialism: what is it and how should scientists respond?”, em que ofereceram este mesmo exemplo e definiram as suas 5 características:

  • Teorias da conspiração – a crença de que os cientistas não estudam fenómenos de forma independente, a revisão por pares é uma ferramenta de suprimir dissidentes e a existência de conclusões idênticas é sinal de conluios secretos.

  • Falsos experts – indivíduos que se afirmam como especialistas, mas cujas visões são completamente inconsistentes com a evidência pré-estabelecida.

  • Seletividade (cherry-picking) – a seleção isolada de artigos que comprovam a tese, ignorando o resto do corpo de evidência.exemplo: a utilização do artigo de Wakefield

    como prova da correlação entre vacinas e autismo).

  • Expectativas impossíveis – mais especificamente, expectativas e exigências desproporcionadas relativamente à evidência (exemplo: indicar a falta de

    confiabilidade de registos de temperaturas antes da invenção do termómetro).

  • Falácias lógicas – o uso de homens de palhas, falsas dicotomias e outros mecanismos de dar a volta ao debate.

Este modelo foi reforçado pelo geólogo James Powell e pelo climatólogo Michael Mann, que propôs seis passos para o negacionismo climático:

  • Os níveis de CO2 não estão a aumentar.

  • E mesmo que estejam, não haverá impacto sobre o clima porque não há evidência convincente de aquecimento.

  • E mesmo que haja, as causas do aquecimento são naturais.

  • E mesmo que não sejam, o impacto humano é negligenciável e o efeito das emissões de gases de estufa será diminuto.

  • E mesmo que não seja, as alterações climáticas serão vantajosas para nós.

  • E mesmo que não sejam, os humanos são muito bons a adaptar-se. Além disso, é tarde demais para mudar o que quer que seja e uma inovação tecnológica vai salvar-nos, eventualmente, quando for mesmo preciso.

É difícil refutar estas posições, não pela falta de evidência sólida, mas pela psicologia do negacionismo. Podes descobrir mais sobre os argumentos usados pelos negacionistas no website do Governor’s Office of Planning and Research do Estado da Califórnia, que os recolheu e lhes responde citando, entre outros, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas e a NASA: http://opr.ca.gov/facts/common-denier-arguments.html

Texto: António Velha - 4º ano

Ilustração: Ricardo Sá - 5º ano