como as redes sociais afetam o nosso comportamento
Social media: forms of electronic communication through which users create online communities to share information, ideas, personal messages, and other content
Segunda-feira. Nove da manhã. Entro na enfermaria, enfrentando mais uma semana de aulas. Sento-me numa cadeira da sala de espera. Os corredores vão sendo lentamente ocupados por batas brancas; os utentes do hospital curiosos como sempre quando nos vêem. Observo os meus colegas cabisbaixos com telemóveis nas mãos, à espera dos respetivos assistentes. “É incrível”, penso, “como as pessoas são obcecadas com as redes sociais”. Volto a olhar para o meu telemóvel, leio os meus e-mails e notificações. Curioso como faço exatamente o mesmo que condeno, e nem me apercebo.
Lembram-se porque é que criaram a vossa conta de Facebook?
Há cerca de dez anos, numa viagem fora de Portugal, uma prima distante perguntou-me “Devias adicionar-me no Facebook. Sabes o que é?”. Depois de ter dito que não, ela explicou-me o conceito. Fiquei pasmada: eis uma ideia tão revolucionária, uma rede onde podíamos partilhar a nossa vida com pessoas que estão longe de nós. Quando voltei a casa, uns dias depois, sentei-me no escritório e passei uma tarde a criar e a aperfeiçoar a minha conta. Penso que fui das primeiras pessoas a criar uma conta no meu grupo de amigos, e por isso, durante algum tempo, tentei convencer todas as pessoas que conhecia a juntarem-se a esta nova rede social. Assim começou. E assim continuou durante anos.
Hoje, em contrapartida, é enorme a procura de soluções que bloqueiam aplicações viciantes como o Facebook e o Instagram. Confesso que já procurei diversas opções para bloquear o meu “screen time”, ou tempo de ecrã, sem grande efeito. Mas porque é que será tão difícil controlarmos a utilização destas aplicações?
Todos sabemos que as redes sociais foram desenhadas com objetivo de serem viciantes. Fazem-nos sentir a necessidade de verificarmos constantemente se alguém interagiu com nossa fotografia ou publicação, ou se o nosso colega já leu aquela mensagem que deixámos na conversa de grupo há umas horas.
Os criadores destas plataformas utilizam várias maneiras de atrair e manter a nossa atenção. Alguns exemplos são:
Endless scrolling, uma funcionalidade que faz com que continuemos a ver publicações de forma infindável. Esta estratégia não nos permite reagir aos nossos próprios impulsos, levando, por isso, a que passemos mais tempo simplesmente a fazer scroll.
Os likes e comentários, que criam uma sensação de comunidade e companheirismo, de forma a que nos sintamos validados com a interação com outros utilizadores.
Push notifications, juntamente com a cor vermelha das notificações (que contrasta com o azul ou branco de fundo), que estabelece uma certa urgência ao alerta e nos incentiva a verificar as nossas notificações.
Estas técnicas quasi-pavlovianas são relatadas por engenheiros e developers, que antigamente trabalhavam para empresas como o Facebook e a Google.
O ex-presidente do Facebook, Sean Parker, admitiu em 2017 que o principal intuito desta plataforma social é de atrair a população, com recurso a libertações de dopamina em resposta ao seu uso. Acrescenta ainda que “é um loop de feedback de validação social (…) porque estamos a explorar a vulnerabilidade da psicologia humana”.
Também Justin Rosenstein, o engenheiro do Facebook que inventou o “like”, descreve a sua criação como [“bright dings of pseudo-pleasure”].
Existe, em sobreposição, uma tendência de esboçar uma vida perfeita aos amigos e seguidores online. É muito fácil olhar para os nossos murais, cheios de publicações premeditadas e fotografias editadas, e questionarmo-nos porque é que nós não conseguimos viver assim. Ignorando completamente o facto de que as pessoas revelam online apenas uma versão filtrada de si mesmas. Os adolescentes, sendo o principal mercado destas plataformas, passam uma grande quantidade do seu tempo a idealizar e projetar uma imagem perfeita online. Será que estamos a instigar as pessoas a criar uma versão falsa online, em vez de as encorajarmos a aceitar a sua individualidade? E não estaremos nós próprios, inevitavelmente, a ficar dependentes da opinião dos outros para cada fotografia ou publicação que lançamos para o mundo virtual?
Apesar destas questões, decerto que a maior parte das pessoas crê que o seu uso das social media é moderado, e que não lhes causa dano significativo, argumentando ainda que estas plataformas permitem uma maior aproximação com os seus familiares distantes e amigos. É o meu caso.
Um estudo de 2018 refere que o uso excessivo de smartphones (e, infira-se, de social media) advém da necessidade humana de contacto e maior afinidade com os outros. Ainda relatam que apesar dos efeitos negativos do vício a redes sociais, o recurso às mesmas surge a partir de um mecanismo natural e evolutivo da espécie humana: a necessidade de vigiar o outro e ser vigiado em resposta.
Por fim, penso que é importante lembrarmos que todas as grandes revoluções tecnológicas foram alvos de fortes críticas. Tal como os telemóveis e computadores, também a televisão, os livros e a própria escrita foram, no seu tempo, vistos como inovações deletérias para o desenvolvimento da sociedade. Hoje, podemos afirmar precisamente o contrário; é indiscutível o avanço permitido por todas estas tecnologias, incluindo as mais recentes. E se uma geração interpreta o uso de redes sociais como sendo uma regressão da comunicação entre pessoas, uma outra geração, a nossa, floresce com o seu uso.
Nuzhat Abdurrachid, 5º ano
Ilustração por Susana Xu, 3º Ano