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A crise climática no lago Chade e a devastação dos campos agrícolas circundantes tiveram como resultado a diminuição das já escassas fontes de rendimento da população.
As mulheres e raparigas, enquanto principais responsáveis em cada família pela procura de recursos, encontram-se em situação de vulnerabilidade acrescida. Para além disso, tem havido uma exacerbação da violência física e sexual contra elas - por parte dos grupos insurgentes e das próprias forças armadas estatais, mas também pelos membros das suas comunidades ou famílias. As raparigas que “sobrevivem” a ataques sexuais são estigmatizadas e obrigadas a casar com os abusadores; por outro lado, as relações sexuais forçadas são a unica forma de conseguirem ter dinheiro para a comida, a roupa e a escola, uma vez que o seu curto percurso escolar não lhes permite arranjar um trabalho. As raparigas são impedidas de aprender: em vez de prosseguirem para o ensino secundário, são obrigadas a realizar tarefas domésticas ou a casar, alternativa encontrada pelos pais que não têm forma de as sustentar. De facto, é muito comum as raparigas casarem-se aos 14-15 anos, altura em que acabam a educação primária - tendência que tem vindo a aumentar desde o início da crise. As raparigas iniciam a vida sexual precocemente, e não possuem informaçao sobre o sexo e o ciclo menstrual, engravidando com muita facilidade. A falta de conhecimentos sobre saúde sexual e reprodutiva, aliada à escassez de cuidados de saúde de qualidade, é uma ameaça para a sua vida: no Lago Chade morrem 773,4 mães por cada 100.000 nados vivos, uma das taxas de mortalidade materna mais altas do mundo.
A situação provocada pela pandemia facilitou o abuso de poder pelas autoridades, que através dos “confinamentos” permitiram a diminuição da atividade de organizações humanitárias. Para além disso, verificou-se a redução das atividades educativas e o fecho de escolas e , bem como de espaços seguros para as crianças, diminuição do acesso a água e saneamento, diminuição do rendimento das famílias. As raparigas viram, ainda, o aumento da necessidade de prestar cuidados aos familiares.
As raparigas estão cientes da sua situação de pobreza e vulnerabilidade, mas reside nelas a esperança de melhorar as condições de vida das suas famílias e comunidades. Elas estão cientes da importância do prosseguimento de estudos e de terem um trabalho adequado, e reivindicam ser ouvidas nos processos de tomada de decisão, terem espaços onde se possam sentir seguras.
Autora: Rita Bernardo
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
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Se fores
Nada temas
Vai até ao fim
Irás conhecer a Vitória e a Derrota
estas 2 impostoras
que habitam
a moralidade da literalidade
Um dia, eu irei à escola
todos os dias
Saberei o que é o pequeno almoço
e o lanche da manhã
Saberei o que é comer
com uma faca e um garfo
Saberei o que é fazer jejum
Diferenciarei a Roda dos alimentos
no meio do trânsito
E perceberei que ir ao médico
pode ser apenas rotina
Um dia, serei rico
rico por dentro,
e por fora
Hoje,
hoje não é o dia
Mas está quase
Espera
Faz silêncio
Já o ouço,
Caminha a passos largos
Até já...
Um dia terei uma casa
onde poderei ver
as estrelas no céu
Como um daqueles canais
no pacote da tv
Um dia, saberei soletrar
a palavra escolha
quando me sentar à mesa
Um dia, conhecerei
a cor incolor
o cheiro inodoro
o sabor insípido
da água que bebo
Um dia, sentirei falta da ignorância
do que é conhecer
nada mais que o hoje
que o agora
Um dia, terei voz
para saber negar
para saber entoar
para simplesmente aprender
a voar
Porque se tu sabes sonhar
e não ser escravo
dos teus sonhos
Porque se tu sabes ouvir
a verdade dita
na penumbra do ruído
Porque se tu sabes pensar
no meio da boçalidade
do aparência
Serás mais
Serás imparável!
Autor: António Lopez
Edição de Imagem: Felipe Bezerra
Bibliografia Texto 1:
2 - https://reliefweb.int/report/cameroon/impact-covid-19-girls-lake-chad
3- https://www.voanews.com/africa/survey-no-safe-haven-girls-crisis-hit-lake-chad-region