POETAS DE ESTETO NA MÃO | Tenho Sede de Ti

Tenho sede de ti,

Sinto na boca a ausência tua.

Doí-me nos braços a leveza

De serem braços sem ti.

Caiu o Sol, reina a Lua.

E estar só é última certeza…


Sede mor de mar,

Tenho sede no corpo todo,

Todo o corpo te sente no não te sentir.

Sede de angústia e choro,

Sono de um sonho a fugir.


Vejo-te morto em vãos desejos,

E fraquejam-me os joelhos sedentos.

Não te tenho vivo. Quero-te morto!

E que entrasses morto pelos meus braços dentro.


Tenho seco todo o sal do rosto

Vazio de luz como de esperança.

Sentado no deserto, olho o chão,

Esperando que, como um rio,

Apagues as pegadas da partida tua.

E venhas, mosto, em dionisíacas danças

Embebedar-me de ti, esquecida, nua.


Com sede nos dedos que te tocaram,

Sede de sede é o meu corpo,

Cada órgão te chora e te chama.

Anatomia macabra de um sopro,

Profanada de dor e de lama.


Tristes, todas as minhas horas

Miseráveis ossos todos os meus.

Fecharam-se todas as portas, é hora!

Troco agora todos os céus

Pelo inferno de uns olhos. Teus.


Autora: Ana Fagundes

Edição de Imagem: Felipe Bezerra