Recep Tayyip Erdogan

Recep Tayyip Erdogan é um nome muito conhecido na atmosfera política internacional, tendo-se tornado particularmente famoso em Junho de 2016 quando a sua presidência foi posta em causa por um golpe militar falhado. Hoje volta uma vez mais à ribalta ao anunciar a antecipação das eleições presidenciais turcas de Novembro de 2019 para 24 de Junho deste ano, sendo o único candidato conhecido para as mesmas.

Erdogan subiu ao poder em 2003 quando foi eleito primeiro-ministro da Turquia, cargo que manteve até 2014 quando foi finamente eleito presidente. No início da sua carreira era visto como um reformador, um impulsionador de uma “Nova Turquia” que viria mostrar ao mundo a possibilidade de uma democracia muçulmana integrada na União Europeia. No entanto, rapidamente se verificou uma mudança nos seus objetivos políticos. A pouco e pouco os poderes presidenciais foram aumentando enquanto que a liberdade de expressão ia sendo diminuída com uma perseguição aos meios de informação. O golpe militar falhado de 2016 deu a Erdogan uma desculpa perfeita para diminuir os poderes das forças militares e aumentar ainda mais o seu controlo ao decretar um estado de emergência que até hoje persiste no país. Até à data, cerca de 150 mil pessoas foram detidas com a desculpa de terem assistido ao golpe de estado falhado, entre as quais cerca de 150 eram jornalistas ou ativistas de direitos humanos. 

Este aumento de poder não era, no entanto, suficiente e, em 2017, foi feito um referendo na Turquia que previa um maior poder executivo presidencial, uma abolição do cargo de primeiro ministro e a criação do cargo de vice-presidente, que seria escolhido pelo presidente, entre outras alterações constitucionais. Este voto foi marcado por muita controvérsia, especialmente porque foram aceites boletins de voto não carimbados, que seriam considerados inválidos e não oficiais, alegando-se que o “não” ganharia se não tivessem sido aceites os cerca de 1.5 milhões de votos não oficiais.

Toda a controvérsia dos anos de presidência de Erdogan levou a que o pedido da Turquia para integrar a União Europeia e as negociações entre a U.E. e o presidente turco cessassem completamente após a aprovação deste referendo. É internacionalmente reconhecido que o seu governo desrespeita a liberdade de expressão e os direitos humanos, sendo estes os principais argumentos para banir a entrada no país na União Europeia. Erdogan está a tornar a oposição ao seu regime cada vez mais impossível, criando uma Turquia oprimida e dividida. Cada vez mais os académicos, os intelectuais e os jornalistas estão a ser alvo de perseguição na Turquia, vários sendo obrigados a entregar os seus passaportes e a serem acusados de promoverem “propaganda terrorista”. O último golpe de Erdogan para cimentar o seu poder absoluto foi a antecipação das eleições presidenciais para Junho deste ano, fazendo-o de forma tão abrupta para que a oposição não tivesse tempo de fazer a sua campanha. Alegadamente, fê-lo por haver um aumento na tensão com a Síria, e por sentir que o país precisa de um líder forte para controlar os confrontos na fronteira turca. No entanto, basta olhar para o referendo de 2017 para perceber que várias das medidas que aumentariam o seu poder só entrarão em vigor após as próximas presidenciais.

O poder de Erdogan continua a aumentar, a Turquia continua a dividir-se com o fosso entre os seus apoiantes e opositores a crescer, e as suas relações internacionais ficam cada vez mais tensas.

Errata: Posteriormente à escrita do artigo foi sabido que afinal haverá oposição nas eleições.

Ana Patrícia Nunes, 5ºano
Ilustração de Ricardo Sá, 3º ano