No primeiro jogo de Portugal no Mundial da Rússia, Cristiano Ronaldo esteve em grande destaque pelos 3 golos marcados e que valeram à seleção nacional o empate frente à seleção Espanhola. No entanto, não é só nos relvados que Portugal se destaca. No meio científico, os lusos têm desempenhado ao longo dos anos um papel louvável de tal forma que, mesmo na imensidão de artigos jornalísticos e programas televisivos centrados no desporto rei, conseguimos encontrar títulos como “Portugal lidera projeto Europeu para criar músculo artificial”, “Oftalmologista portuguesa distinguida pela segunda vez com prémio da Universidade de Harvard” e “Patente portuguesa no combate ao cancro”.
O primeiro título, publicado no Jornal Expresso no passado dia 3 de Junho, explora o papel preponderante do Instituto de Medicina Molecular na criação de músculo artificial, que poderá ter importantes aplicações. Em tempo de Mundial, conseguimos rapidamente perceber a sua relevância no contexto das lesões desportivas, mas as aplicações estendem-se ao tratamento da distrofia muscular de Duchenne (Doença neuromuscular definida pela degenerescência do músculo esquelético, liso e cardíaco) e ainda ao tratamento da degeneração muscular provocada pelo envelhecimento. Tudo se inicia na cultura de células estaminais pluripotentes induzidas que, por serem capazes de originar qualquer tecido do organismo, permitirão aos investigadores a obtenção de células musculares, neurónios e vasos sanguíneos. De seguida, torna-se necessário criar uma estrutura onde as células possam ser posicionadas corretamente, de modo a adquirirem a sua função, algo que será efetuado pela equipa do Instituto Curie e pela empresa Fluigent. A Universidade de Edimburgo intervém na etapa seguinte juntamente com a empresa Fluigent no sentido de estabelecer o fluxo sanguíneo e, por fim, as diferentes equipas atuam em simultâneo com o objetivo de retirar “a armação inicial”.
No campo da oftalmologia, destaca-se Inês Laíns que trabalha no Massachusetts Eye and Ear Hospital e que recebe pela segunda vez o 'Evangelos S. Gragoudas Award' atribuído ao melhor artigo científico na área de Oftalmologia. O seu trabalho centra-se numa técnica que prima pela inovação ao identificar biomarcadores que possibilitam a distinção entre indivíduos com Degenerescência Macular relacionada com a idade e indivíduos saudáveis. É de referir que esta doença está entre as principais causas de perda de visão no mundo ocidental. Por isso, a distinção de tais biomarcadores poderá tornar-se de grande importância para um diagnóstico precoce, identificação de indivíduos com maior risco de vir a ter a doença ou com pior prognóstico associado. Em 2017, Inês Laíns recebeu o mesmo prémio pela Harvard Medical School, algo que raramente é conseguido, já que apenas dois oftalmologistas conseguiram tal feito.
E tal como um jogador tem de marcar 3 golos para conseguir alcançar o hat-trick, também os investigadores portugueses se destacam numa terceira área de grande importância – A oncologia. A Lymphact é uma startup do Silva-Santos Lab do Instituto de Medicina Molecular e que foi recentemente comprada pela GammaDelta Thrapeutics, uma empresa de biotecnologia britânica. Esta compra permite que a formulação de DOT cells desenvolvida pelo laboratório no contexto da imunoterapia possa ser aplicada num ensaio clínico que, devido aos elevados recursos financeiros que exige, não poderia ser efetuado pela empresa portuguesa. Deste modo, tal como refere Diogo Anjos numa entrevista à Sic Notícias, a “tecnologia está bem entregue e vai chegar aos doentes”, cumprindo-se o principal objetivo da equipa do Silva Santos Lab.
Uma equipa, uma série de adversidades, avanços e retrocessos e um objetivo comum. Refiro-me ao Futebol ou à investigação médica? A verdade é que existem curiosas semelhanças entre ambos. Num grita-se “Golo”, no outro “Eureka”, mas o mais importante é que Portugal tem tido motivos para gritar os dois.
Bárbara Rodrigues, 3ºano
Ilustração por Sofia Pessoa Jorge, 3º ano