Assim que soube que o Dan Brown tinha publicado um novo livro, apressei-me em arranjar forma de o ler. Sendo um dos meus autores preferidos, com uma capacidade fora do comum para criar suspense, elaborar plot twist inesperados e abordar temas controversos, Dan Brown tem uma enorme capacidade para nos prender às suas histórias e nos deixar a ler até altas horas da madrugada.
Sendo sincera, A Origem não é o melhor dos seus livros. Sendo ainda mais sincera, fiquei até ligeiramente desiludida com o mesmo. Contudo, aborda uma temática muito interessante: tecnologia vs espécie humana. A história retrata um super computador, Winston, com capacidade de pensar por si próprio e tomar decisões, entre inúmeras outras caraterísticas algo assustadoras para um computador. O criador de Winston, Edmund Kirsch, apresenta-nos ao longo do livro a sua fantástica teoria futurista que demonstra que, daqui a poucas dezenas de anos, irá acontecer uma de duas coisas:
Ou a tecnologia irá eliminar a espécie humana…
Ou a tecnologia e a espécie humana irão fundir-se numa só.
Fiquei a pensar nesta teoria futurista e pareceu-me algo ridículo que não houvesse outras opções para além destas duas. Certamente, a espécie humana pode imaginar um futuro sem a tecnologia… Ou não?
Entretanto, em meados de Outubro, saíram os resultados do estudo “Happy Kids: Aplicações Seguras e Benéficas para Crianças” do Católica Research Centre for Psychological, Family and Social Wellbeing (CRC-W), da Universidade Católica Portuguesa. Segundo este estudo, com 1986 respostas consideradas válidas dadas por pais, 51% das crianças com menos de 8 anos de idade utilizam aplicações. Para além disto, o estudo afirma que “As crianças mais jovens (0-2 anos) são as que mais usam apps, sobretudo porque estas são um valioso recurso para os pais as manterem entretidas fora de casa (ex. no restaurante) ou quando precisam de trabalhar em casa ou de fazer tarefas domésticas.”
Comecei a considerar tudo isto mais seriamente. Eu tenho primos mais novos a viver em Nova Iorque e em Moçambique que com 2 anos já sabem utilizar o skype e ligar aos meus avós. Eu presencio as chamadas que às vezes fazem, à revelia dos pais. No pouco que convivo com os meus primos americanos, vejo que são completamente viciados em jogos no tablet e que, aos 2 anos, sabem utilizar este instrumento melhor que eu, que tenho 10 vezes a idade deles. Como será que irão os meus primos evoluir no futuro? E as restantes crianças?
Nas últimas décadas, temos assistido a uma evolução da tecnologia acompanhada de melhorias na nossa qualidade de vida como nunca antes se tinha assistido. Todavia, a nossa dependência pela tecnologia no dia a dia não só aumentou exponencialmente como o fez de forma sorrateira. Aos poucos, estamos a viver em simbiose com a tecnologia e nem nos apercebemos. Será que a teoria futurista de Edmond Kirsch não é tão ridícula assim? Irá a tecnologia vencer-nos? Ou seremos nós a juntar-nos a ela?
Inês Abreu, 4º ano
Ilustração por Sofia Pessoa Jorge