BULA MEDICINAL | QUO VADIS HUMANIDADE?

unnamed.jpg

António Lopez participou na Vª Edição do Concurso Literário Anual RESSONANCIA, “Rebeldes com Causa”. Este seu texto garantiu-lhe o 3º lugar.

O ser Humano é sem dúvida um ser peculiar. Cheio de paradoxos, contradições, mas sem dúvida alguém que é muito interessante. Desde os primórdios dos tempos, quando o Homo Sapiens começou a pisar o planeta Terra, muitos desafios foram ultrapassados, houve um desenvolvimento enorme a todos os níveis. Mas, será que com tantas conquistas, tudo o resto acompanhou, tudo o resto foi pensado? 

Foi Martin Luther King quem disse, há mais de 50 anos, que “a ironia dos nossos tempos é que possuímos misseis guiados, mas muitas pessoas sem rumo”. Curioso de também pensar que temos cada vez edifícios mais altos, mas menos tolerância perante tudo o que nos rodeia; que temos estradas e auto-estradas cada vez maiores e mais largas, mas cada vez menos senso comum, cada vez gastamos mais, mas na verdade, temos cada vez menos. E é nestes paradoxos que cada vez mais nos vamos diluindo na nossa humanidade, e nos grandes valores que costumávamos ressalvar, quem não se lembra da revolução francesa e o “Egalité, Liberté et Fraternité”? 

Vivemos cada vez numa sociedade autofágica, cada vez mais sem valores, sem rei nem roque. Dizia Donald Trump que “a coerência é para os falhados” e ninguém pode deixar de pensar que afinal é capaz de existir cada vez mais Trumps ou Pseudo-Trumps a habituar o nosso Mundo. É tempo de dizer basta, de dizer chega, de começar a mudar

Voltando ao número cinquenta, foi mais ou menos há cinquenta anos que as coisas se começaram a complicar, e muito. Até a esse momento, apesar de todos estudos, das séries televisivas, dos filmes como “O dia depois de amanhã” a avisar do que poderia vir aí, da relação causa-efeito entre a actividade humana e as alterações climáticas, ninguém demonstrou preocupação. Muitas vezes a resposta é que a ciência havia de resolver tudo, tal como quando se seca uma mesa cheia de água com um pano…

Curioso é que a ciência havia de resolver tudo, parece que nunca foi levada muito a sério. Todas as acções que se desenvolviam para tentar salvar o planeta foram tão eficazes como um placebo num doente hipocondríaco. A prepotência de alguns líderes mundiais continuarem a poluir, explorar as energias fósseis até ao máximo, encher os oceanos de plástico. 

Em 1992, Severn Suzuki, uma menina na altura, deu uma lição a muitos chefes de estado numa cimeira da ONU, no Brasil, país cujo actual líder é um dos principais figuras a par de Trump na defesa acérrima de que o Aquecimento Global é apenas uma utopia. Vale muito a pena rever a prestação de Suzuki, é um orgulho para todos os jovens, a coragem, a bravura, em enfrentar muita gente na altura. Contudo, todos esses sentimentos contrastam com os resultados que se vêem hoje, ano de 2019, uma inércia quase total por muitos dos principais líderes mundiais.

Há uns meses atrás surge uma jovem sueca, Greta Thunberg, que veio dar uma nova vida à luta pelo planeta Terra. Greta não é só mais uma Severn Suzuki, é alguém com muita coragem, fiel às suas ideias, aos seus princípios. Muitos podem chamá-la de radical, que está ligada a lobbies, mas ela é tão mais que isso. Greta surge num tempo em que parece que o Ze Povismo português parece ter assolado muito do Mundo, e ela veio ser a cara da luta por um amanhã melhor.

Albert Einstein costumava dizer que “não podemos resolver os problemas do presente com as mesmas ideias que os criámos”. Há que começar a abrir os olhos e ouvidos das pessoas que apenas se limitam existir e não querem viver, e usar a luta como a arma para enfrentar os poderes instituídos (é curioso de ver que a etimologia da palavra rebelde é tão curiosa que vou desafiar o leitor a procura-la).

Nascemos sem pedir e morremos sem o desejar, mas enquanto andamos por cá temos que lutar por um lar melhor, e o lar não é apenas a nossa casa, é o nosso planeta. Tudo isto ainda não acabou, estamos todos à beira do precipício, ponto de não retorno, mas o bom é que é nestas alturas que o Homem costuma decidir mudar e fazer algo. Que a doença da rebeldia o ataque bem e com força, e que não haja vacina, para o nosso bem, e das gerações vindouras. 

Texto: Antonio Lopez - 2ºano

Ilustração: Susana Xu - 4ºano