À minha volta só há mar
E o mundo é bonito,
Um universo cheio de possibilidades
E um sem-fim de lugares
Para explorar.
à minha volta só há mar
e o mundo assusta-me,
a mais pequena oscilação deste barco pode ser a última,
só tenho um sítio para onde ir e mesmo lá
não sei como me receberão.
Nesta grande embarcação,
Os meus filhos saltam e riem de alegria,
Já fizeram amigos novos
De todos os continentes do globo,
Cada um com expressões e maneirismos diferentes,
Mas temos espaço só para nós,
Uma sala de espetáculos,
Uma piscina de água limpa
E uma multidão de sorrisos prestáveis.
quase não me consigo mexer
entre tantos corpos suados e magoados
não reconheço nenhuma destas caras
mas conheço toda a gente
pois todos têm aquela expressão na cara
igual à minha
infeliz,
sem esperança
e de quem já sobreviveu alguém.
Em breve chegaremos a casa
Desta viagem de verão em família
Com pele bronzeada,
Areia nas sandálias
E recordações para todos
Os que nos esperam,
Os miúdos já sentem falta dos avós
E de todos os animais de estimação.
tenho saudades dos meus pais,
sei que não os vou voltar a ver.
aperto a mão do meu irmão de 6 anos
e penso com força num desejo de aniversário:
que tudo corra bem e daqui a uns anos
ele não se lembre de nada
ou então acredite que tudo não passou
de um sonho mau perdido no meio de memórias felizes.
A viagem de regresso
Está a ser calma e monótona
A luz do sol anima tudo ainda mais
E acenamos felizes aos passageiros
Do outro cruzeiro em sentido contrário.
a viagem é traiçoeira
nunca sabemos o que esperar
lá fora está escuro,
mas assim é melhor,
pode ser que não suspeitem do nosso barco.
Agora que estas semanas
Chegam ao fim,
Sei que aquilo de que
Vou ter mais saudades
É o barulho das gaivotas
Que me acordavam de manhã.
esta travessia parece
nunca mais ter fim,
mas se algum dia acabar
não vou ter saudades de nada
principalmente dos gritos
que tantas vezes me acordavam de manhã.
Autor: Inês Costa Louro -3º ano
Ilustração: Tânia Clemente 4°ano