Vai começar a Primavera e esta espécie de ave paira por aí, voa e chama amigos.
Dizem que a recruta de Piscos começou lá para dezembro em terras asiáticas.
O bando entretanto fartou-se e migrou para outras bandas.
Eles andam por aí, fechem-se ou não as fronteiras. Talvez até já tenha um pousado no meu ombro e nem o saiba!
Para mim é deveras interessante ver como agora abominamos ter demasiado tempo e ignorar os vizinhos e ter que usar só o telemóvel para comunicar com as nossas pessoas. Esperem. Vou repetir. Nós abominamos o ter demasiado tempo e ignorar os vizinhos e ter que usar só o telemóvel para comunicar com as nossas pessoas.
Faz me refletir imenso sobre a nossa própria postura de sociedade líquida: sociedade contemporânea hiper acelerada e desconectada, onde tudo passa, e que passe rapidamente! Porque há sempre mil e uma coisas melhores de se fazer do que trabalhar e estudar... o aqui e agora é para quem tem tempo… Será?
Estamos a voltar aos mínimos, aos basais, aos essenciais. Ansiamos o contacto físico, a troca de olhares, começamos a querer pôr de parte o ecrã brilhante, outrora tão aliciante! E queremos menos, menos notícias, menos informação, menos tempo livre.
Ando a contar os dias como o Robinson Crusoe, sinto que só agora chegou o inverno. Por outro lado anseio os resquícios positivos que esta clausura deixará. Agora todos os meus almoços são em família. Agora todos os dias tentamos discutir um filme que vimos ou um livro que lemos. Forçamo-nos a comunicar sobre coisas triviais até que até isso se torne trivial.
De manhã acordo, incomodo-me com o silêncio dos vizinhos, levanto-me e visto a roupa “normal”, a roupa da rua. Antes da videoconferência ainda vou buscar o gatinho velhinho e deixo-o a meu lado, ele, que nao entende nada destas mudanças é quem mais me acalma, ele nem se questiona, só fecha os olhos, faz uns tremeliques de ternura e adormece no embalo.
E quando os Piscos partirem? Como seremos nós? Quem seremos nós?
Texto: Beatriz Aranha Martins - 5º ano
Ilustração: Felipe Bezerra- 3º ano