É notícia nos jornais:
MORREU A INOCÊNCIA DO MUNDO
Está extinta, acabou, morreu solteira, depois de muitos anos fugida pelas ruas da amargura. Tornou-se indigesta e, como tal, não foi difícil de eliminar. Todos o pediam, todos o cantavam e Ela, sem escolha, fez-lhes a vontade. Ficou o Pudor, o seu primo afastado, ruim e inchado de falsidade, sempre acompanhado pela madrasta Decência e do padrasto Decoro. Todos eles com um perfume a naftalina e bem vestidos de hipocrisia.
O céu está cinzento, hoje. Talvez ainda haja alguma inocência escondida por aí, numa criança, enquanto não cresce. Tenho esperança de encontrá-la, porque a inocência que me resta contorce as minhas entranhas, solitária e dolorosa e eu não quero deixá-la fugir.
Autor: Santiago Ribeiro
Ilustração: Felipe Bezerra - 3º ano