O teu nome é o epíteto específico da espécie de dor que eu sinto.
E mergulho num éter de convulsa apatia a cada facada torpe, cada sílaba desse teu título esmagada compassada contra o meu palato. Com este conjunto de sílabas te anuncias, atrás dele te mascaras e escondes, com ele me sufocas em todos os “ondes”.
Podia dizer-te meu caro, ou que sinto amor, mas esta palavra está suja e rota. Olho para dentro dela e está vazia, semanticamente. Usam o amor e vendem-no. O amor é muito barato, está em todas as promessas. Prefiro odiar-te, com todo o rancor que em mim houver. Guardar o fel e escrevinhar, com ele, o teu nome pelas paredes da minha alma. Sentar-me depois a sorvê-lo como coisa estrangeira, corrupta.
Bebo o sangue das tuas veias para que no fundo da minha boca fique o teu nome, como uma canção triste. Vou regar, depois, a tua sepultura com as lágrimas minhas, cheias dos átomos teus. Eu quero enterrar-me viva sob as letras que escreves no fim das tuas cartas, as que eu recebia sempre. Aquelas que não chegaste nunca a escrever. Quero dormir contigo na sombra dos jazigos, aconchegar o meu frio nas tuas vestes funestas e envenenar-me num derradeiro beijo. Quero balas e fogo. Não… Não quero amor. O amor vende-se em jornais e compra-se avulso, porque fica mais em conta assim e evitam-se overdoses. E o amor sente-se com as mãos. Mas olho para as minhas palmas e vejo-as, sós. Eu olho as minhas palmas e vejo palmas, vazias. Montes de células inúteis que quero ver estoirar, projetadas contra a distância infinita que há entre mim e a tua inexistência.
Eu não te sinto com o coração. Ele, se é que bate, fá-lo em vão, que o código morse que envia não recebe resposta. Eu tateio o ar onde te vejo e nunca te toco. E não há sombra no chão. Fito-te os olhos cheios de ar e choro. És imóvel como um cadáver, que vive apesar das mil mortes, ou por causa delas (?). Tu dóis. O teu nome dói. E quem és tu? O que és se te posso unicamente odiar, porque não te consigo sentir, porque só te posso pensar? Odeio-te por te pensar, porque te pensei uma vez e outra, até que te tornasses um nome que não me cansei de (esc)rever. Não cansei de doer, masoquistamente-viva.
Fantasma chamar-te-ia o mundo. Porque me visitas, breu da noite, essência tua que me cedes como oferenda. Anjo infernal, quero ver-te arder. Mas tu não te inflamas, chamas(-te). Eu chamo-te em neurótico desatino e, por te ter chamado, dóis-me.
Tu és só um nome que dói, designação de nada, imagem de um umbrático ninguém.
Tu, que me persegues a carne que não tens, que me destróis, lacaio do demónio que me habita a cabeça, numa cefaleia.
Tu, nome berrado por ninguém, que ribomba sem parar. Por desdém.
Autor: Ana Fagundes - 2º Ano
Ilustração: Felipe Bezerra - 4º ano