CONTRA-CORRENTE | Luzes, Câmara, Votação!

À primeira vista o filme é, no mínimo, aborrecido. Com traços que roçam o distópico e que deixam adivinhar um certo mau-gosto do realizador, o próximo dia 24 de janeiro aproxima-se, oferecendo um enredo relativamente previsível, desenrolado sob um pano de fundo de frio, medo e doença. As próximas eleições presidenciais ameaçam, por isso, ser um autêntico fracasso de bilheteira, desencorajando até os mais interessados cinéfilos a largar o xaile e a Netflix (ou os livros e as sebentas para os mais estudiosos) para irem votar no chefe de Estado dos próximos 5 anos.

          Portanto, será expectável que os críticos mais mordazes olhem com desinteresse para o próximo grande evento da vida portuguesa. Fortificarão por certo a sua posição afirmando que o papel de Presidente da República é sobretudo representativo no contexto político do nosso país. Responderão com a vitória anunciada de uma figura moderada, responsável e popular como Marcelo Rebelo de Sousa àqueles que lhes lembrarão a importância determinante da influência presidencial, do seu poder de veto ou da capacidade de nomear um governo e de dissolver a Assembleia. Para encerrar a questão, mencionarão o desconhecimento geral de alguns dos candidatos (ou personagens!) envolvidos, que afasta o público da estória a contar.

          Mas do lado dos geeks de cinema, que se mantêm fiéis às sagas, quer o último filme seja um blockbuster, quer acabe por estragar o que aí estava a ser uma autêntica obra-prima, ouvem-se alertas relevantes. Para além da clássica noção de cidadania, que reconhece no voto uma mistura entre direito e dever, resultado de lutas árduas, há a notar que se vive um tempo singular. Por um lado, a crise social, económica, de saúde pública e até humanitária que vivemos justifica por si só que cada um dê exemplo de uma sociedade viva, proativa na construção coletiva do rumo que havemos de seguir. Por outro, hoje em dia de nada valem as sondagens contra a força da realidade concreta e imprevisível, desenhada por cada membro da sociedade no momento em que faz a sua cruz. A verdade é que há forças que se mexem no anonimato mediático mais capacitadas a mobilizar os seus apoiantes, particularmente os extremismos, porque a revolta contra o sistema se superioriza ao comodismo dos que consideram a democracia e a liberdade como valores adquiridos por fatalidade. Assim, as Presidenciais serão um momento-chave que perscruta o futuro, ajudando a perceber até que ponto se pode esperar uma estagnação dos extremos políticos em Portugal ou se se adivinha o seu crescimento ameaçador como em grande parte do mundo.

          Da minha parte, hei-de ir ver o filme ou não tenha um geek em mim. Como não quero ir sozinho, vou pedir ao leitor que venha também! O meu conselho para quem não está familiarizado com as personagens é que perca uns minutinhos a familiarizar-se na net ou, então, que peça ajuda àquele amigo que acompanha tudo o que é cinema. Afinal de contas, todas as oportunidades são boas para se adiar o estudo.


Autor: Diogo Miranda - 6º Ano

Ilustração: Guilherme Luís - 5º ano