Costuma-se dizer na gíria popular que “a vida são dois dias e o Carnaval três”. Foi preciso chegar a 2021 para entender o estonteante significado por detrás da expressão.
Na pré-pandemia creio que o povo se desfaria em animação durante três dias seguidos. Desfiles com carros alegóricos, mascarados de tudo e mais alguma coisa, festa e diversão eram ritual anual em muitas localidades portuguesas dedicadas 100% à festividade. Pessoalmente não me diz muito. Há uma vida atrás era a desculpa para um fim de semana festivo dedicado à “feira das tradições e atividades económicas” da terra natal onde o foco estava no cartaz artístico que iria animar as noites e o desfile escolar. No meu último desfile era uma “Branca de Neve” sem anões, não sei bem porquê já. Ao fim da segunda rotunda já me tinha fartado da ocasião. “O que é demais também enjoa”, um ditado popular que também se coaduna face à situação atual.
Então, mas que raio de matemática é essa em que o Carnaval dura mais que a vida? Bem, a verdade é que entre máscaras mais assim ou assado, já lá vão dois confinamentos e quase um ano onde a máscara passou a ser adereço obrigatório nos escassos desfiles à rua e mais além. Máscaras salva-vidas estas que chegaram até ao Carnaval de 2021! Há ainda quem não ache piada ao disfarce e se recuse a alinhar na seriedade, entre outros atentados às normas de saúde pública, acabando com a parada de respeito pelos que lutam contra toda esta realidade atroz. Os profissionais de saúde têm “o privilégio” de se disfarçar da cabeça aos pés todo o santo dia. Esses sim vivem um Carnaval infinito que teima em acabar. Afinal, dura muito mais que três dias até. E o mais aterrador é que para muitos, a vida teve mesmo duração inferior a este impiedoso Carnaval.
O contador nacional mostra já mais de 15 mil vidas desaparecidas em alegoria (muitas mais pelo mundo fora) e talvez teria sido tudo diferente se a folia tivesse sido encurtada, pois, no futuro, há sempre três dias para se celebrar o Carnaval, mas nem sempre há dois dias para viver.
Autor: Catarina Monteiro - 5º Ano
Ilustração: Guilherme Luís - 5º ano