POETAS DE ESTETO NA MÃO | Médicos (In)completos

Na incerteza dos tempos que vivemos,

São várias as alterações que sofremos.

Ó estudantes de medicina,

O quanto da nossa experiência isto nos elimina?


Preparar-se para sair de casa deixou de ser,

Hoje, acordar 5 minutos antes da aula é o que nos faz mover.

Ainda bem, não temos de acordar tão cedo,

Mas até que ponto compensa todo este novo enredo?


Ligaram-se computadores, desligaram-se emoções

O que seremos nós, médicos das próximas gerações?

Seres humanos intitulados de Doutores

Formados entre os seus e outros horrores.


A aluna que se tornou mais cínica,

O rapaz que nunca aprendeu a fazer história clínica

E outro que já não será tão empático

Pudera, as suas férias ficaram em isolamento profilático...


Evita-se o trânsito, os atrasos, o stress matinal

E aquela chuva que já não faz mal.

Nos dias de hoje, a preocupação é achar o link da aula

Cabeça aberta a matéria, corpo dentro da jaula.


Perdemos muito do contacto com os doentes

Através de tecnologias, vemos os docentes

Assim como, alguns colegas, que mais não serão

Pois, não há oportunidade de conexão...


As horas de estágio perdidas

Poderão alguma vez ser substituídas?

Ó estudantes de medicina,

O quanto da nossa experiência isto nos elimina?


O pior é que vai para além do mundo profissional

Ofende as nossas necessidades de animal...

Socializar era algo que fazia parte

Atualmente, é quase uma obra de arte

É curioso se pararmos para pensar:

Que seria de nós sem uma pandemia a assombrar?

Seríamos igualmente estudantes,

Com sentimentos que se tornariam relevantes.




A rapariga que hoje está em casa fechada

Poderia estar apaixonada

E o jovem que se sente tão sozinho

Conheceria pessoalmente o seu sobrinho


Sentimentos afundados nas adversidades,

Enquanto fantasmagóricas ficam as cidades.

Sair das aulas e lanchar juntos num café?

Resta sonhar para voltar, resta ter fé.


Antes conheciam-se pessoas em conjunto,

Na nova realidade, só trabalhos como assunto.

Seremos um aglomerado de médicos satíricos,

Que socializarão apenas por métodos empíricos?


O mundo silenciou-se num anonimato,

Agora parecemos um mero substrato

Cujo produto final é o desconhecido,

Outrora o que foi quente está arrefecido.


Desta situação retiram-se alguns pontos positivos,

Poucos e fracos perante os negativos...

Por agora teremos de viver neste formato,

Quem não tem cão, caça com gato.


Ao mesmo tempo que todos lutam pela sanidade

Nós lutamos para prosperar na universidade.

Respirem, leiam este hino da saudade, 

Sabendo que no futuro haverá mais felicidade!


Por fim, ficarão sempre algumas questões:

O que seremos nós, médicos das próximas gerações?

Seremos (in)completos?

Fortemente moldados por solitários trajetos?

Autor: André Vares

Ilustração: Felipe Bezerra