“Saudade” é uma palavra nossa, do povo português. É uma palavra única e sem definição, palavra que conseguimos compreender e sentir, mas que não conseguimos explicar nem escrever de outra forma.
Já existem múltiplas abordagens filosóficas à Saudade, devido à sua natureza e cariz sem igual:
- Teses Ontológicas: a exaltação do sentimento coletivo de saudade como síntese de um destino sagrado de Portugal ou como elemento construtivo de um destino de regeneração e purificação nacionais de inspiração divina.
- Teses Histórico-críticas: a negação do valor da saudade enquanto sentimento coletivo de Portugal e a identificação daquele com uma situação de consciência dividida entre o sonho de ser grande e a realidade de se ser, de facto, pequeno.
- Teses Analíticas: consciência da existência da saudade como um sentimento peculiar do povo português, sem que por este motivo seja instrumento de redenção, salvação ou superioridade de Portugal.
Para a maioria de nós, portugueses em pleno século XXI, a Saudade talvez só se aproxime do “destino sagrado de Portugal” quando lemos louvores ao corajoso povo lusitano, os feitos heroicos de séculos passados, em obras como Os Lusíadas, de Luís de Camões, ouMensagem, de Fernando Pessoa. Para nós, a Saudade é algo muito mais pessoal e íntimo, ligado aos sentimentos e, em grande parte dos casos, à distância.
Quando penso que já senti saudade, plena, simples, crua e total, percebo que posso sentir mais. Quando sinto todos os milímetros que nos separam, sei que um dia ainda vou sentir mais. Quando só quero voltar, sei que um dia vou querer mais. A saudade tem o seu próprio ritmo, uma vontade própria de se apoderar de nós que não pede permissão nem dá justificações a ninguém. Estou longe há apenas três dias e sinto um aperto no coração, todos os meus movimentos transbordam de saudade como nunca aconteceu, nem quando a distância era maior ou o relógio já tinha contado muitos mais segundos.
A saudade não se explica: não é racional nem compreensível, simplesmente acontece quando amamos alguém ou algum lugar. A saudade é uma palavra simplesmente portuguesa, não porque só nós é que a sentimos, mas porque só nós conseguimos traduzir por uma palavra esta onda que de vez em quando nos rapta e afoga na sua imensidão, reclamando o nosso coração como prémio.
Há pessoas que morrem de saudade? Acho que sim.
Inês Costa Louro, 1º ano
Ilustração por Beatriz Aranha Martins, 3º ano