Meu nome é Rubens, tenho 23 anos e estou cursando o 5º ano de uma faculdade de Medicina no interior do estado de São Paulo, Brasil. Nesse momento, são 3 horas da manhã do dia 25 de abril de 2020 e estou sentado na varanda do meu apartamento, olhando as luzes da cidade. Há 2 meses o Brasil teve seu primeiro caso de COVID-19 e há pouco mais de 1 mês, sua primeira morte devido à doença. Hoje, há 50 mil casos e quase 4 mil mortes. Vou tentar contar, em poucas palavras, como foi esse período por aqui.

Observando o que aconteceu em países como Itália e Espanha, a maioria dos estados brasileiros atuaram precocemente decretando quarentena e pedindo para que seus moradores ficassem em casa pelo maior tempo que pudessem, com objetivo de evitar sobrecarga do sistema público de saúde existente no país. A partir desse momento, aulas foram suspensas e substituídas por vídeo, e trabalhadores dispensados para trabalhar em suas próprias casas, quando possível. As orientações eram para evitar o contato social, usar máscaras de tecido sempre que possível, deixando as máscaras descartáveis para uso hospitalar. Tais medidas adotadas foram adequadas e deveriam conferir proteção à população.

Porém, há uma questão sobre o Brasil que o difere dos vários países do continente europeu. Há no país, com as últimas eleições, uma importante polarização política, que culminou com ascensão de um líder de extrema direita e um discurso extremamente voltado para economia do país. Sendo assim, com a política de distanciamento social decretada pelos estados brasileiros, nosso presidente da república iniciou o questionamento de tais medidas, dizendo que seria extremamente danoso para economia do país. Discursos sobre re-abertura do comércio, volta ao trabalho e fim do distanciamento social foram proclamados pela população, em apoio ao presidente.

Sendo assim, uma nova polarização foi formada no país: saúde vs. economia. Sim, por mais estranho que isso possa parecer, é real. Manifestantes vão à rua protestar contra o isolamento e pedindo seu fim. Tal embate levou à saída do até então Ministro, favorável ao distanciamento social, no dia 17 de abril, demitido pelo presidente. Não tenho ideia como o serviço de saúde brasileiro vai lidar com o possível aumento exponencial de casos nas próximas semanas e isso me dá medo. Tenho medo por mim e pela minha família, que usufruímos de tal sistema público.

Por fim, ontem, dia 26 de abril de 2020, o Brasil se envolveu em uma nova crise política, quando o Ministro da Justiça, pediu demissão, dizendo que o presidente queria interferir politicamente em locais que não deveria. Então sim, o Brasil é um dos únicos países que deve conciliar as notícias entre uma pandemia, que está matando milhares de pessoas, e questões político-econômicas, com manifestações anti-distanciamento social.

Continuo sentado aqui, sem saber como vai ser o dia de amanhã. Torcendo pelo melhor, mas esperando pelo pior. Nesse momento, estou afastando do hospital em que trabalho, por questões de proteção. Mas, em pouco tempo, voltarei ao trabalho, sem saber o que esperar.